Crítica de série

Crítica | As várias facetas de Omar Sy na 1ª temporada de ‘Lupin’

Publicado 4 anos atrás

Dizem que a arte imita a vida, mas a recíproca também pode ser verdadeira como bem prova Lupin (2021), seriado francês que recentemente estreou no catálogo da Netflix baseado na obra do escritor Maurice Leblanc, Arsène Lupin, e estrelado por Omar Sy (Intocáveis, 2011). A série se tornou referência no serviço de streaming, tornando-se líder de audiência não só na França, mas em vários outros países, inclusive o Brasil.

O enredo conta a história de Assane Diop, um homem que busca vingança pela injustiça infligida a seu pai por uma família rica, usando para isso as habilidades aprendidas através de seu personagem literário favorito, o cavalheiro-ladrão Arsène Lupin.

lupin assane planejando

Apesar de reconhecido internacionalmente e constituído já há muito tempo como referência, o audiovisual francês (incluindo cinema e TV) não é o que mais me agrada, sendo que a forma cinematográfica mais característica do país não cai muito em meu gosto pessoal. Porém esse não é o caso de Lupin, cuja primeira temporada surge como a exceção que confirma a regra, consagrando-se como um dos melhores seriados a que assisti nos últimos tempos. E o motivo não é difícil de entender.

Em primeiro lugar, Assane é interpretado por um dos atores franceses mais carismáticos da atualidade, Omar Sy, cuja excelência da atuação se revela em cada cena da série e transcende até mesmo o personagem que tenta imitar: o próprio Arsène Lupin. Mestre da linguagem corporal, Sy dá uma aula de interpretação enquanto conquista cada espectador, fazendo-nos esquecer do quanto suas motivações são erradas, ainda que compreensíveis.

lupin assane fugindo

É impressionante como cada vez mais somos atraídos por essas personalidades “deturpadas”, o mocinho e/ou a mocinha cada vez mais distintos das facetas que não muito tempo atrás os caracterizavam e que hoje causam mais tédio do que qualquer outra coisa. Talvez possamos culpar as vicissitudes das últimas décadas por isso, já que amar criminosos como o Dexter de Michael C. Hall, os ladrões com nome de cidade de La Casa de Papel e agora o próprio Assane Diop de Omar Sy continua na crista da onda e, no embate entre os novos mocinhos e os vilões, tudo torna-se uma questão não de quem está certo, mas de quem está menos errado. Por outro lado, o que acalma nossas consciências é saber que todos esses nomes citados acima possuem algum tipo de moral, mesmo que esta seja um pouco degenerada. C’est la vie.

Sendo assim, não é à toa que Lupin alcançou tamanha audiência, mostrando um roteiro ágil e muito interessante, modernizando um clássico literário com maestria, tomando cuidado com cada detalhe, inclusive incutindo na tela a atmosfera contagiante de um jogo de detetive.

lupin família

Assane sabe nos fazer esperar por cada movimento seu, nervosos tanto quanto pela expectativa de ele ser pego, como pelas consequências de seus atos, e tudo isso sob o pano de fundo da história de um ladrão elegante, um ladrão que usa casaca e cartola mas, de repente, pode aparecer dentro de um macacão de faxineiro do Louvre.

Parece até ilusão, mas o truque de mágica de Lupin é na verdade bem simples: um texto engenhoso e bem estruturado de quem sabe fazer uma série televisiva. Dessa vez a França acertou em cheio. A segunda temporada já foi confirmada. Tomara que não demore. Nous sommes impatients!


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Lupin Poster Maior

País: França

Idioma: Francês

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