Desde de La Casa de Papel (2017) que não assistia a um seriado espanhol tão bom. Não posso dizer que O Internato: Las Cumbres, o novo seriado da Amazon Prime Video, seja melhor que o fenômeno da Netflix, uma vez que a proposta de um de outro são totalmente diferentes. Só posso afirmar que ambas me empolgaram de igual forma.
A série, que é um surpreendente thriller de mistério, acompanha a história de adolescentes considerados problemáticos que são confinados em um internato localizado num local quase inacessível e isolado.
Com algumas cenas fortes que podem levar os mais impressionáveis a considerar O Internato: Las Cumbres como uma obra de terror, o seriado se destaca por misturar elementos do que a Espanha já fez de melhor nesse início de século: mostra uma prisão, como em Vis a Vis (2015), e um ambiente escolar, como em Elite (2018), mas pelo menos nessa primeira temporada, conseguiu se tornar maior do que aquelas duas.
Tudo se passa em uma escola-prisão, portanto. Comandada com mãos de ferro pela implacável diretora Mara (Natalia Dicenta), a instituição atua sob o pretexto de ser um local para acolher adolescentes desajustados, jovens que ninguém deseja, mas pelos quais somos levados a simpatizar desde o início. E talvez tal empatia se dê simplesmente porque esses garotos foram parar ali, naquele Internato que, aliás, é um dos personagens da história. Podemos pensar nele, inclusive, como uma Hogwarts do mal, cujo clima seja talvez só um pouco pior do que aquele em O Príncipe Mestiço, quando Dolores Umbridge assume a direção do castelo substituindo Dumbledore.
Mas não se engane. O Internato: Las Cumbres não é um seriado infanto-juvenil ou sequer adolescente, assim como Harry Potter, em seus volumes finais, também não o é mais. Mas podemos dizer que também existe um pouco de magia aqui. O fato de a construção da escola assemelhar-se em muito a um castelo e ser cercada por um bosque sinistro, longe de qualquer outro tipo de civilização, nos dá a estranha e incrível sensação de que estamos a séculos de distância do nosso, mas o figurino, os artigos eletrônicos e os meios de transporte insistem em nos trazer para nossa própria época. Ficamos assim, portanto, numa eterna e genial máquina do tempo imaginada pelos criadores Asier Andueza e Laura Belloso.
E então os dois colocam uma fotografia mais escura, puxada para o azul, e um mistério envolvendo uma seita muito antiga a ser resolvido pela esquentadinha Amaia (Asia Ortega) e o fofíssimo Paul (Albert Salazar) e pronto! Ou melhor, ainda não. Porque o link que o roteiro faz com o outro suspense envolvendo Inés (Claudia Riera), que sofre de amnésia depois de ter sofrido um acidente, não tem defeitos. E tudo isso ainda envolve romances proibidos e maquinações corruptas que fazem desse seriado, imperdível.
A Amazon é menos rápida que a Netflix quando se trata de produção de originais, mas quando resolve fazer um, é quase imbatível, sendo a casa de grandes produções do audiovisual, notadamente de seriados. O Internato: Las Cumbres, agora é uma delas. Pelo menos essa primeira temporada. Rezo para que continue assim, porque mal terminei de assistir e já quero a segunda.