Crítica de série

O Rei de Porcelana

Publicado 6 meses atrás

Nota do(a) autor(a): 2.0

Usar a técnica do cafona na arte é perigoso, mas pode funcionar. É uma técnica, afinal de contas, muito utilizada na década de 1990, inclusive. E um dos exemplos de seu uso mais famoso atualmente é Bridgerton.

No entanto, não creio que a intenção da equipe criativa de O Rei de Porcelana tenha sido revisitar o passado para resgatar qualquer tipo de estilo visual ou narrativo.

Não. Ao contrário de Bridgerton, a impressão que dá é a de imposição de um ideal romântico puramente estético em detrimento de um conteúdo que poderia ser lembrado por muito tempo.

E olha que a premissa dessa história, que guarda um estilo meio Mulan, poderia ter gerado um resultado infinitamente melhor do que o apresentado. Porque é só começar a assistir para perceber que a obra acaba anulando a si mesma em uma triste autossabotagem – algo que, infelizmente, não é tão incomum assim em produções audiovisuais.

Como seria bom se a série tivesse explorado a ideia da superstição do nascimento de gêmeos na família real, ou a profunda solidão dos dois protagonistas e suas formas de isolamento. Mas O Rei de Porcelana se perde em seus maneirismos exagerados, testando até romper os limites e abusando do método deus ex-machina – coisa que deixa a história inconsistente e, muitas vezes, até  incoerente. 

No entanto, pelos comentários espalhados tecendo loas à série internet afora percebe-se que essa anulação irritante acaba sendo suficiente para criar uma cegueira coletiva em relação à produção. Talvez tenha sido a sensação lúdica que ela consegue passar, embora tenha poucos ou quase nenhum elemento de fantasia em sua mise-en-scène.

Mesmo assim, considero a autossabotagem algo de imperdoável no audiovisual, como um desperdício sem explicação nem justificativa. Ora, a excelente Park Eun-bin (de Uma Advogada Extraordinária) poderia estar fazendo algo de bem melhor do que estar perdendo tempo olhando e sendo olhada pelo seu par romântico sem sal (para usar de um eufemismo) e, porque não dizer, chato.

Mas não me entendam mal. Quem não gosta de olhares significativos? Conseguir mostrá-los é um dos grandes poderes do cinema e da TV. Porém aqui passou do razoável, passou do cafona e ficou ridículo.

É uma pena.

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O rei de porcelana poster

País: Coreia do Sul

Idioma: Coreano

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