A quarta temporada da animação do Adult Swim voltou em dois mil e vinte com cinco episódios, sendo transmitidos no mês de maio. Aqui n’O Cinema É trarei um texto sobre cada um dessa leva de episódios.
Uma vez, um amigo que faz faculdade comigo e atualmente compartilha um projeto audiovisual, tratando sobre Community em seu Twitter, disse que a vida se tornou espetáculo e que assistir Community é um espetáculo sobre a vida transformada em espetáculo. Por mais que a fala do Marcos seja sobre a supracitada série, na verdade, trata-se de um comentário preciso acerca da obra de Dan Harmon, que fica mais claro nesse sexto episódio da quarta temporada de Rick and Morty.
A trama se passa num trem que na verdade é um dispositivo narrativo que, literalmente, os aprisiona de forma metafórica. É essa autoconsciência que, em algumas obras metidas a espertinhas (cof, cof, Deadpool, cof), reside a sua ruína, mas R&M faz dela seu trunfo. Harmon, que é um cara do roteiro há tempos, famoso por sua versão reduzida da jornada do herói para caber no formato televisivo, sabe que palavras no papel não são nada e precisam se tornar imagem, e poucos criam imagens como toda a equipe por trás da série.
Fundamentalmente, R&M não é uma série preocupada com grandes arcos narrativos ou qualquer coisa que remeta a um longo desenvolvimento, parece mais um apanhado de gente com humor parecido fazendo piada dentro de um pretexto. E é nesses momentos que a série brilha. As diversas piadas acerca do processo criativo de se escrever uma história tem na sua superfície um valor cômico de experimentação por si só, mas quando temos em mente o exercício de espetacularização da vida, seguimos por outros caminhos. As histórias de reinos sendo desrespeitados pelos peidos do Rick, suas aventuras sexuais com as mais diversas criaturas do universo e até um comentário de como às vezes narrativas são forçadamente progressistas, almejam ser alocadas em predisposições como feministas por terem passado pelo teste de bechdel mas que não possuem nada substancial.
Os respingos que as ações dentro do trem possuem naquele universo são tão reconhecíveis ao mesmo tempo que novas. Quem não se lembra do jogo de simulação de vida? Aqui, torna-se a realidade do cara dos bilhetes, que por si só tem seu corpo “escrotizado” e posteriormente martirizado, sendo ideologicamente associado ao celibato e diversas ações humanitárias acontecem em seu nome…. soa como Jesus, ainda que completamente imerso dentro da realidade efêmera que sempre nos é apresentada na série. Efemeridade essa que possui um outro componente importantíssimo para o show: brutalidade. É tudo muito visceral, gráfico, traumatizante e… efêmero. No grande esquema das coisas, toda essa natureza violenta, inerente à série, todas as mortes, as lembranças, o sangue, é tudo parte da colagem de acontecimentos independentes que coexistindo num curto espaço de vinte minutos, transformam Rick and Morty na joia televisiva que é.
