Crítica de série

Menos sexo e mais conscientização na 2ª temporada de ‘Sex Education’ | Crítica

Publicado 5 anos atrás

A primeira temporada de Sex Education chegou mostrando a que veio ao abordar temas sexuais. E mesmo que esse seja um assunto muito comum, poucas séries têm a coragem de explorar as camadas da descoberta sexual na adolescência.

O que não falta à Netflix é o risco. Seja para o bem ou mal, a plataforma consegue inovar em seus projetos. A criadora Laurie Nunn chegou dando dois chutes no peito na primeira temporada ao abordar temas como aborto e homofobia de maneira muito responsável. É difícil ver uma pessoa que não tenha se emocionado com os dilemas de cada personagem, e o que recebemos na primeira temporada foi uma apresentação da personalidade de cada um em situações extremamente cômicas. Pessoalmente eu mal podia esperar pelo segundo ato.

Sex Education Patricia Allison, Asa Butterfield, Sami Outalbali, Ncuti Gatwa e Tanya Reynolds

Então a Netflix abre o ano com essa temporada rica e cheia de profundidade. Evidente que o sexo é sempre o assunto, mas dessa vez, ele se torna uma consequência das atitudes prévias de seus personagens. É bom ver Jean (Gillian Anderson) como mais do que uma mãe que constrange o filho e paga de sabichona. Ela desabrocha, revelando-se uma mulher cheia de inseguranças que ainda tem muito a aprender com seus relacionamentos. É uma personagem que a cada episódio você ama ainda mais e torce para que ela tenha o final feliz que merece.

Sex Education Gillian Anderson
Gillian Anderson em Sex Education

Por outro lado, sobre a turma peralta do colégio Moordale, é certo dizer que o caos nunca vai abandonar a instituição, apresentando situações hilárias como um surto de histeria coletiva de DST, uma versão safadinha e interestelar de um clássico Shakespeariano – dirigido pela sempre intrigante Lily (Tanya Reynolds) – e uma festa selvagem na casa de Otis (Asa Butterfield).

Porém, mesmo em meio à loucura, cada personagem tem seus problemas contados em maiores dimensões, o que deixa a audiência satisfeita em amadurecer com eles e viver seus problemas. Pretendo dissecar alguns, nesse texto sem grandes spoilers.

Aimee

Definitivamente o arco da Aimee (Aimee Lou Wood) é um dos mais tocantes, pois vemos uma personagem vibrante e doce vivendo um trauma que assombra milhares de mulheres no mundo. Por um momento você pensa que ela vai passar por isso com calma, mas, na verdade o buraco é bem mais embaixo. E a forma com que ela começa a superá-lo é uma das resoluções mais lindas vistas em tela.

Patricia Allison, Aimee Lou Wood, Simone Ashley, Tanya Reynolds, Emma Mackey, Chinenye Ezeudu

Jackson

E quanto ao atleta popular mais fora do padrão, Jackson (Kedar Williams-Stirling)? Na primeira temporada pudemos ver algumas dicas dos problemas internos que ele enfrentava, mas dessa vez a gente fica de coração partido por ver a pressão que ele enfrenta diariamente. A ansiedade definitivamente é um problema em sua vida, e após o término com Maeve (Emma Mackey) ele fica realmente quebrado. O personagem termina a temporada nos dando aquele gostinho de quero mais.

Kedar Williams-Stirling
Kedar Williams-Stirling em Sex Education

Maeve

E falando na Maeve, ela teve menos destaque nessa temporada, o que não significa que sua participação não foi relevante. Ao se deparar com o retorno da mãe, ela precisa tomar muitas decisões que evitem que ela siga o mesmo caminho.

Maeve tem uma dinâmica muito interessante com os novos vizinhos e podemos ver seu lado mais doce quando ajuda Aimee e seus colegas de classe, mesmo que em algumas situações ela se mostre egoísta. Mas como diria o outro seriado da Netflix a.k.a. You, pessoas perturbadas atraem pessoas perturbadas e, através da moça, somos apresentados ao Isaac (George Robinson).

Além disso Laurie Nunn nos surpreende mais uma vez ao criar um personagem fora da caixa do qual sentimos tudo, menos pena. A relação de Maeve e Otis nunca esteve tão afastada e parece que as coisas vão mudar somente nos últimos segundos do último episódio, aquele velho cliff hanger que faz o fã sentir ódio por ter de esperar 1 ano pelo desenrolar da situação.

Otis

Otis foi o personagem que menos teve um desenvolvimento substancial, ele compartilha algumas cenas fofas com seu pai e descobre que tipo de pessoa não quer ser: um babaca mimado tute arrogante. Ele está longe de ser o bom moço que aparenta ser. Eu esperava que o relacionamento dele com a Ola (Patricia Allison) desse certo, mas apesar da ótima atuação de ambos os atores, a falta de química do casal é clara e proposital. Ola é interessante e merece coisas grandiosas na vida , e todas as formas como ela lida com seus problemas são impecáveis, mostrando que até uma pessoa muito segura e confiante como ela tem suas rachaduras. Porém senti que forçaram a barra quando acrescentarem certos dilemas sexuais em sua vida.

Eric

Por último, mas não menos importante, o coadjuvante mais amado de todos Eric (Ncuti Gatwa) finalmente consegue manter-se feliz durante a temporada inteira. Depois de tudo por que ele passou, o rapaz merece ser visto, amado e disputado, o que levanta muitas dúvidas sobre o que ele quer em um relacionamento. Suas cenas com Adam (Connor Swindells) causam um misto de sentimentos: uma hora você quer que eles fiquem juntos, em outra a ideia dele ter um relacionamento saudável é bem melhor! Mas o importante é que ele escolhe seu destino. Ele se ama e valoriza as pessoas em sua vida.

Sami Outalbali Ncuti Gatwa
Sami Outalbali e Ncuti Gatwa em Sex Education

Não existiram momentos ruins em Sex Education e vários personagens novos e antigos com menos destaque nos cativaram, como Viv (Chinenye Ezeudu), Olivia (Simone Ashley), Mrs. Groff (Samantha Spiro) – que finalmente teve seus problemas trabalhados – e Ruby (Mimi Keene). Todos tiveram seus momentos de intimidade com o público, e essa individualidade tornou essa temporada muito mais sóbria e reflexiva sobre assuntos mais sérios, mostrando todo o seu potencial.

Posso dizer com segurança que se todas as personagens de Sex Education tivessem um episódio inteiro, valeria a pena ser assistido. O terceiro ano tem muito material para ser trabalhado e não tem como sair do foco já construído.

 

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País: Reino Unido

Idioma: Inglês

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