The Rain, seriado dinamarquês da Netflix que tem como base narrativa um vírus letal que dizimou boa parte da população depois de uma fatídica chuva (evento que dá nome à obra), fez bastante sucesso fora de seu país de origem e também aqui no Brasil. Durante três temporadas acompanhamos a jornada de Simone (Alba August) e Rasmus (Lucas Lynggaard Tønnesen), dois irmãos que passaram seis anos de suas vidas vivendo em um bunker, com medo dos efeitos da tempestade, só saindo quando seu estoque de suprimento estava perto do fim. É então que eles conhecem o grupo de Martin (Mikkel Boe Følsgaard) e suas aventuras finalmente começam.
O final da segunda temporada no ano passado – mais especificamente a última cena -, embora pudesse ter sido previsto pelos espectadores mais atentos, foi realmente fantástico, enchendo o público de expectativas quanto ao futuro da trama. Mas, como a grande maioria das séries e notadamente daquelas que mais fazem sucesso, o final decepcionou.
Sendo assim, vejamos. A terceira temporada tem início quando Simone, depois de uma cena romântica com Martin (casal que, aliás, nunca teve muito química) finalmente atravessa (sozinha) o muro que isolava a parte da Dinamarca que estava infectada pelo vírus, só para descobrir que aquela quarentena não servira para nada e que o resto do país também havia sido infectado.
Entretanto, a questão central dessa parte da história ainda estava, por vir. Quando ela pensa que o mundo está perdido, um sopro de esperança aparece na forma de uma flor que contém a cura para o vírus. Essa planta, além de ancorar a narrativa, é também a parte colorida da série, que ostenta uma fotografia cinza azulada e branca, exacerbada pelo cenário e figurino futuristas, especialmente nas cenas que se passam nas instalações da Apollon. Ademais, faz todo o sentido do mundo que a solução para a erradicação do vírus esteja na própria natureza.
Chama atenção, no entanto, alguns aspectos da própria morfologia da referida flor – ela é um tanto bizarra e impressiona seu mecanismo de defesa, bastante exagerado! Mas isso não é o que incomoda, visto que a própria representação do vírus, desde o começo é também hiperbólica.
Na verdade, o problema da terceira temporada de The Rain é o seu ritmo mais lento, a pouca profundidade das relações entre os personagens e, por último e não menos importante, Rasmus. Sendo uma das partes mais importantes da trama, o personagem de Tønnesen se transformou em algo intragável e irritante, deixando pouco ou quase nada com que possamos defende-lo.
Sendo assim, é difícil saber o que desagrada mais: o fato de ele dormir em uma redoma de vidro que o isola, mas que ele tem total liberdade e autonomia para sair ou sua crença em que poderia liderar uma equipe de cientistas. O único ponto de redenção para ele parecia ser seu relacionamento com Sarah (Clara Rosager) – esses dois sim possuem química! -, mas até isso ele consegue estragar, quando se torna um tosco com ela. Foi muito feio da parte dele, que deixou de merecê-la.
E por falar em protagonistas, se nos voltarmos para Simone, encontraremos a justificativa para o que mencionei anteriormente sobre sua relação com Martin, que era tão fraca que até arranjaram um novo interesse romântico para ela, Daniel (Rex Leonard), mas para isso, tornaram Martin um fraco e fizeram o arco final do personagem sem sentido e totalmente desnecessário.
E não foi só isso. Foram seis episódios em que a enrolação reinou absoluta, sendo que na maior parte do tempo fomos mergulhados em momentos aleatórios que não acrescentam muito à história. Um exemplo, são os flashbacks de personagens secundários, como aqueles em que Kira (Evin Ahmad) fica relembrando seu passado.
O que se conclui, portanto é que, se comparado com as temporadas anteriores, o nível desta esta última temporada de The Rain caiu consideravelmente e não soube conduzir tão bem seu fechamento. Infelizmente, não foi só a quarentena que deu errado na trama e, mesmo que o final tenha feito algum sentido, deixou para trás aquela sensação de insaciedade. Mas que não se tire o mérito da série em nos fazer conhecer o trabalho do audiovisual dinamarquês (assim como o excelente Areia Movediça, embora menos conhecido do público, nos faz conhecer o sueco) e o de expandir nossos horizontes para outros mercados que não o que estamos acostumados.