O relativamente recente interesse pelas produções que, se não são orientais, falam sobre os orientais, pode não ter nada a ver com a altíssima nota que o remake Xógum: A Gloriosa Saga do Japão alcançou no IMDB (8.9) e no Rotten Tomatoes (99% da crítica e 91% da audiência), mas com certeza vai chamar a nossa atenção muito mais do que em épocas passadas.
Talvez seja difícil descobrir de onde a minissérie, ambientada no Japão do século XVII, quando o marinheiro inglês John Blackthorne (Cosmo Jarvis) aporta na ilha depois de passar maus bocados no mar, tira a sua força. Mas podemos arriscar uma resposta.
É que já se sabe que o lance do sucesso está quase 100% ligado ao desenvolvimento das personagens. Quando ele é bem feito, deixa a própria história em segundo plano. E Xógum faz isso com excelência.
Ora, se no romance homônimo de James Clavell (o qual não li, mas que é a base da série), a história parece girar em torno de Blackthorne, aqui existem controvérsias. Ouvi dizer até que, apesar de tudo, Xógum é sobre Mariko (Anna Sawai), a bela tradutora japonesa que ajuda o marinheiro a se comunicar no país estranho. Mas não seria errado dizer que o centro da narrativa seja Yoshii Toranaga (Hiroyuki Sanada), o brilhante líder japonês que o captura.
É uma brilhante confusão de protagonismo.
Só que a beleza de tudo é poder dizer que, seja como for, não importa. São três personagens que impressionam por suas nuances e conquistam pela construção bem conduzida: Blackthorne com sua impulsividade e generosidade. Mariko com sua delicadeza e fidelidade inabalável. E Toranaga com sua sagacidade e mistério.
E aí entram em cena a fotografia deslumbrante e o figurino excepcional e pronto. Não há história simples o bastante que pudesse estragar qualquer coisa.
Portanto, se é isso o que ganhamos com o interesse pelas produções orientais ou que falam sobre os orientais, por favor, continuem. É realmente de algo como Xógum que precisamos.