Mais do que acostumados, nós aqui do ocidente estamos acomodados pela influência e pelo poder de Hollywood em nosso repertório cinematográfico. No entanto, não é só a gigante americana do entretenimento que possui obras incríveis e memoráveis.
A Ásia tem um arsenal maravilhoso de filmes que merecem ser conhecidos. Por isso, nós aqui d’O Cinema é nos sentimos na obrigação de mostrar algumas dessas películas para vocês e, por isso, nosso colaborador Pedro Tao assumiu a tarefa de trazer à luz uma lista de 5 títulos orientais que não podem deixar de ser assistidos.
Pode parecer pouco se levarmos em consideração a vastidão do legado cinematográfico oriental que, inclusive, influenciou e ainda influencia muito o cinema aqui no Oeste, mas se quiser saber mais e ter sempre uma sugestão de filmes asiáticos, acompanhe nosso podcast, onde eles estarão sempre presentes em nossa Roleta Cinéfila!
Em nossa Roleta #07, nossa equipe discutiu o filme Audition (1999) – Takashi Miike; e na Roleta #09, o filme Plano-Sequência dos Mortos (2017) – Shin’ichirô Ueda.
Confira agora a lista de 5 filmes asiáticos que você precisa conhecer.
1. Rebeldes do Deus Neon (1992) – Tsai Ming Liang
Raiva, culpa, despropósito, ócio, incompreensão… Qualquer palavra associada à juventude em qualquer momento da história da humanidade pode ser aplicada numa definição deste filme. Dois irmãos e a namorada de um deles vagam por Taiwan inebriados pelas luzes e o abandono. A existência por ela mesma, sem um fio condutor extenso, somente pensando no dia do amanhã, nunca propondo nada para o espaço que vivem, apenas comportando-se com a volatilidade das situações que enfrentam. Já Hsiao-Kang, o silencioso protagonista que acompanha de longe os outros três, decide abdicar da suposta segurança e conforto de sua casa para viver como um rebelde que está sempre à procura de algo – ele só não sabe o que é. Ele vê os irmãos como seres latentes da cidade e seu fascínio por isso muda completamente sua vida. É basicamente como disse Ventilador de Teto em Hipster de seu primeiro EP. Eu queria ser como vocês.
2. Um Verão na Casa do Vovô (1984) – Hou Hsiao-Hsien
Coming of age é uma espécie de gênero que trabalha o crescimento literal de uma criança. No filme de Hsiao-Hsien, Tung-Tung é um garoto que vai para o interior passar um tempo com seus avós. Ao seu redor, a vida adulta acontece e vemos todas os dilemas da família através das lentes bambinas. A doença de sua mãe e as atribulações daquele lugar tornam-se o motor do amadurecimento de Tung-Tung, ao mesmo tempo em que o diretor ainda preserva uma inocência e simplicidade na relação do menino com as outras crianças durante esse período de férias.
3. Anjos Caídos (1995) – Wong Kar-Wai
A sequência espiritual de Amores Expressos (1994 – Kar-Wai Wong), aqui a ideia do amor é a oposição do “primeiro” filme. Se em Amores Expressos a impressão é que o amor te encontra e reorganiza todas as suas percepções (Faye entrando na casa do policial e mudando tudo de lugar), em Anjos Caídos (1995) a visão de mundo é preestabelecida e difícil de ser contornada. A ideia de que tudo acaba, tudo é liquido, efêmero, e por isso a necessidade de se aproveitar cada milissegundo. Não vemos começo, mas sabemos que o fim está próximo. Resta-nos aproveitar o emaranhado que chamamos de meio.
4. A Cura (1997) – Kiyoshi Kurosawa
Tem-se em Tóquio uma sequência de assassinatos compartilhando semelhanças. Pessoas comuns e sem relação umas com as outras cometem esses homicídios e deixam um X feito de sangue no pescoço das vítimas, mas não se lembram de terem matado ninguém. Enquanto acompanhamos Takabe na sua busca do que está acontecendo, o filme aponta para os mais sombrios latentes pensamentos que cruzam nossas cabeças. Kurosawa está interessado em relacionar uma espécie de dormência psicológica com a nossa relação com o trabalho, que automatiza tudo em função de um melhor rendimento. O diretor constrói visualmente uma sensação de alienação a todo momento com seus planos abertos e personagens distantes, alocados em um lado do quadro, presos. O que poderia libertar-nos desse entorpecimento? Qual seria o antídoto?
5. Grass (2018) – Hong Sang-soo
Kim Min-hee sentada em um café; tudo que você precisa saber sobre esse filme. Brincadeiras à parte, o papel da atriz na trama é o de fio condutor. Escuta o relato dos clientes e anota tudo em seu computador, conjecturando o que acontece quando saem do estabelecimento. Sobre todas as coisas do mundo, principalmente as doloridas, são elas que compõem o nosso dia-a-dia. Os filmes de Sang-soo sempre possuem seu diretor como uma deidade que vislumbra suas crias nos momentos mais triviais de suas vidas e as molda com uma sequência que diegeticamente não parecem relacionadas, mas no grande esquema das coisas tudo está alinhado, tudo converge, tudo é um só.