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Diretor e ator brasileiro em Los Angeles aponta desafios do cinema nacional e aposta em inovação na formação de atores

O ator e diretor Thiago Carvalho vive um momento particular de ascensão em sua trajetória. À frente do Conservatório de Artes Performáticas de Los Angeles, o cineasta e empreendedor tem se dedicado à construção de um novo método de formação de atores, conciliando técnicas de atuação com os conhecimentos necessários para a inserção no mercado. Tudo isso em um cenário de grandes conquistas e mudanças no setor do audiovisual brasileiro.

Com mais de 17 anos de carreira, Thiago acumula experiências em produções para canais como HBO, Record e Globo. entre suas experiências vivenciou momentos de descontentamento com o processo de seleção de elenco por parte das agências e produtores, sobretudo no início de sua carreira. “Tive que cavar essas coisas na unha… Naquela época era muito fechado”

Segundo Thiago, há um abismo entre a classe de atores, muitas vezes despreparada para o mercado, e o universo das produtoras e agentes. . “A gente tem uma inconstância muito grande. Os produtores não entendem nada de atuação para contratar atores descentes. Os diretores se formam em faculdades que não entendem nada de atuação, e os atores se formam em cursos que não conversam com o mercado. É uma completa bagunça”, critica o diretor.

Esse incômodo, somado à sua formação em um dos principais cursos de atuação de Los Angeles, despertou no cineasta a necessidade de apresentar novas alternativas que aliem teoria e prática para o desenvolvimento e a profissionalização dos atores.

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Meu Primeiro Longa e Formação de Atores

O contato com artistas e profissionais de diversas áreas da produção cinematográfica permitiu que Thiago desenvolvesse um olhar apurado para identificar falhas e necessidades no relacionamento entre atores e produtores.

Uma das soluções que encontrou para driblar as chamadas “panelas” dos testes de elenco foi desenvolver projetos autorais e independentes, construindo um público e atraindo a atenção do mercado. Seu lema, “Produzir para ser visto. Servir para ser lembrado”, sintetiza essa abordagem e está presente em materiais de seus cursos.

Entre seus principais projetos está Meu Primeiro Longa, desenvolvido em parceria com a Otzi Group. O programa busca apresentar uma metodologia que combina técnicas de atuação voltadas para o cinema com uma abordagem prática de mercado. A partir de avaliações conduzidas por especialistas de diferentes áreas do audiovisual, os melhores alunos ranqueados protagonizam um longa-metragem escrito e produzido por Thiago.

O curso chega à sua terceira edição em 2025 e já contou com a participação de mais de 50 alunos de diferentes estados do país, resultando em dois longas-metragens que estão atualmente em fase de pós-produção. As aulas ocorrem no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, e exigem participação ativa dos alunos, que são constantemente avaliados. “É um programa que eu gostaria de ter tido”, comenta Thiago.

Além do Meu Primeiro Longa, o Conservatório de Artes Performáticas de Los Angeles, sob a liderança de Thiago, já desenvolveu o maior projeto de ensino a distância (EAD) de atuação no Brasil, contando com uma comunidade ativa de mais de 600 alunos. Os projetos têm trazido resultados expressivos na criação de pontes entre atores brasileiros e o mercado internacional.

Brasil x Estados Unidos: diferenças de mercado

Com experiência entre o Brasil e os Estados Unidos, Thiago destaca a grande diferença no volume de oportunidades de testes para atores. Ele relembra a época em que estudava no estado da Geórgia, nos EUA, e convivia com sets de gravação de grandes produções como The Vampire Diaries e The Walking Dead. Nesse contexto, os produtores lançavam chamadas de elenco de forma muito mais ampla. “Só de eu criar meus perfis, colocar minha foto e um vídeo, cheguei a 20 testes em uma semana… É um outro universo”, compara.

No que diz respeito à escala de produções, Thiago destaca que um filme de grande orçamento no Brasil, como Ainda Estou Aqui, que custou cerca de R$ 8 milhões (aproximadamente USD 1,3 milhão), seria considerado um projeto de baixíssimo orçamento e independente no contexto americano.

Outro ponto crítico apontado pelo cineasta é a burocracia envolvida nos editais de financiamento de filmes no Brasil. “Aqui a gente tem vários editais que contemplam vários absurdos, que você tem que seguir várias regras e cotas que não fazem o menor sentido para a história que você quer contar, para depois lançar um filme que ninguém vai assistir e não tem apelo comercial. Não são artistas que conseguem preencher essas planilhas. A gente fala que quem passa em edital é planilheiro, ou que tem dinheiro para pagar um planilheiro”, critica.

O futuro do cinema brasileiro pós Ainda Estou Aqui

Apesar das dificuldades, Thiago vê um momento promissor para o cinema brasileiro, impulsionado pelo crescimento da audiência em plataformas de streaming e pelo reconhecimento internacional.

Na visão do cineasta, a maior diversidade nas academias e organizações internacionais, aliada à expansão dos serviços de streaming, tem ampliado a aceitação e o destaque de filmes fora do circuito hollywoodiano. Ele acredita que o sucesso de Ainda Estou Aqui, indicado a três categorias no Oscar 2025, pode aquecer o setor audiovisual brasileiro com mais financiamentos e oportunidades. No entanto, ressalta que é preciso encarar o cinema como uma indústria e atrair investimentos do setor privado.

“Espero que a gente entenda agora. Se bota dinheiro no mercado brasileiro, dá retorno! O Globo de Ouro nunca teve tanta audiência quanto agora com a Fernanda Torres. A audiência é a moeda”, enfatiza.

Quanto ao futuro, apesar do sucesso de seus projetos de formação de atores, Thiago planeja uma pausa após a terceira edição do curso Meu Primeiro Longa e o encerramento de suas mentorias. Seu objetivo é focar na carreira de ator no exterior. O momento é de entusiasmo e otimismo para o cineasta.

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