Se o cinema é capaz de capturar almas, Homem com H está prestes a embalar a do público em penas, brilho e resistência. Com a divulgação do novo trailer pela Paris Filmes, a cinebiografia de Ney Matogrosso, dirigida e roteirizada por Esmir Filho e protagonizada por Jesuíta Barbosa, já demonstra que não se trata apenas de mais um retrato de artista. O que se vê — e sente — é uma ode cinematográfica a um corpo que sempre recusou as jaulas do preconceito e uma voz que atravessou décadas desafiando todas as ordens de silêncio. O longa chega aos cinemas no dia 1º de maio, mas o novo trailer já planta na mente do cinéfilo atento a promessa de um espetáculo estético e emocional digno da figura que retrata.
Esmir Filho, já conhecido por sua sensibilidade em explorar subjetividades em Os Famosos e os Duendes da Morte, investe em um realismo poético que casa bem com a narrativa de uma vida transformada em arte. A câmera acompanha o jovem Ney em sua transição do anonimato para o palco, e o faz com intimidade: planos fechados no rosto pintado, contraluzes que emulam holofotes e sombras que simbolizam o peso da repressão social e política. O trabalho de fotografia — ainda que vislumbrado apenas no trailer — já mostra que não se trata de uma cinebiografia convencional, mas de uma encenação visual do delírio e da dor, do corpo em luta e da alma em chamas.
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E é impossível não destacar Jesuíta Barbosa, que literalmente encarna Ney com intensidade e delicadeza. O ator, conhecido por papéis que desafiam o binarismo e mergulham em zonas emocionais complexas, parece ter se fundido ao personagem. Sua interpretação, como se vislumbra no trailer, não se apoia apenas na imitação vocal ou física. É na maneira de caminhar, de olhar, de dançar com o próprio corpo que Jesuíta alcança a essência performática e política de Ney. E quando surgem os figurinos animalescos, as maquiagens kabuki e a androginia explosiva — marcas visuais de Ney nos Secos e Molhados — o impacto é imediato.
Jesuíta não apenas representa Ney Matogrosso; ele o reverbera. Sua performance promete se tornar um dos grandes destaques do cinema brasileiro recente, justamente por não reduzir o artista à sua imagem pública, mas por acessar suas contradições internas, suas paixões (como as relações com Cazuza e Marco de Maria), suas dores, e principalmente sua recusa em ceder à norma.
Assim, Homem com H não se trata apenas de reviver canções conhecidas, mas de reinterpretá-las como capítulos emocionais. “Pro Dia Nascer Feliz”, eternizada por Cazuza, já entrega no trailer sua função simbólica: ela é ao mesmo tempo trilha de amor e de ruptura, ecoando a intensidade da relação dos dois artistas.
Além dessas, o filme promete uma viagem musical por faixas como “O Vira”, “Rosa de Hiroshima” e “Sangue Latino”, cada uma funcionando como cápsula do tempo e comentário poético da vida de Ney. É como se a trilha não apenas ambientasse a narrativa, mas a completasse — sugerindo que talvez só mesmo a música consiga tocar o que a palavra não alcança.
Mas um dos aspectos que mais impressiona no trailer é o cuidado com a construção visual. Os figurinos não são apenas roupas — são manifestações de identidade. Do corpo seminu à maquiagem inspirada no kabuki japonês, a estética de Ney Matogrosso é tratada com reverência e criatividade. A direção de arte não busca apenas reproduzir os looks clássicos do cantor, mas reinterpretá-los com o frescor do cinema.
A montagem do trailer também merece destaque: entrecorta memórias com performances, silêncio com explosões sonoras, sempre em sintonia com o espírito dual de Ney — doce e feroz, romântico e provocador. Há ritmo, há tensão, há entrega.
Homem com H chega aos cinemas no 1º de maio, mas a expectativa já se desenha em neon. Para o público cinéfilo, essa não é apenas uma oportunidade de conhecer mais sobre Ney Matogrosso, mas de viver — através da lente da arte — a transformação radical de um corpo que se recusou a obedecer e, assim, se tornou eterno.
