Crítica de filme

As Golpistas

Publicado 5 anos atrás

Uma das maiores joias do gênero cinematográfico é o “heist”.  Uma trama criminal sobre pessoas que cometem golpes para benefício próprio e, às vezes, com uma razão nobre por detrás, quase sempre é sucesso. Especialmente quando é baseado em uma história verídica, como é o caso de O Lobo de Wall Street, Bons Companheiros e Prenda-me se For Capaz, aclamados de público e crítica. Dirigido por Lorene Scafaria, As Golpistas (Hustlers) se baseia no artigo publicado na New York Magazine,The Hustlers at Scores’, de Jessica Pressler, que também roteiriza o filme.

as golpistas team

Acompanhamos a história de Destiny e Ramona, duas strippers que veem suas vidas entrarem em declínio após a crise financeira que abalou Wall Street em 2008. A falta de clientes na boate que trabalham fez com que elas iniciassem um plano em que, juntamente com algumas amigas, vão atrás de homens em restaurantes para, após dopá-los, faturar em cima de seus cartões de crédito.

Falar sobre profissionais do sexo no cinema desperta interesse, mas é um desafio saber executá-lo. Retratando os strippers, Hollywood nos agraciou com algumas galhofas como Showgirls e Striptease. Magic Mike (2012) apresentou um pouco da realidade desses profissionais, que foi um sucesso de público e crítica. Contando os altos e baixos de um grupo masculino de srtrippers, o sucesso do primeiro foi tanto que três anos depois saiu uma sequência.

Recentemente temos acompanhado o tamanho da dificuldade que é para Hollywood investir em um filme estrelado e dirigido por mulheres. Infelizmente, isso não é lucrativo, pois ninguém está interessado na perspectiva feminina. Jennifer Lopez não deixou de comentar essas dificuldades em uma entrevista. A atriz conta que,

“Nós não podíamos fazer um filme gigantesco e, além disso, tínhamos personagens femininas a frente dele, isso é uma outra grande batalha. É uma camada totalmente nova e é difícil fazer com que eles sejam feitos.”

as golpistas jennifer lopez

Não podemos esperar muito da bilheteria de As Golpistas, mas é uma história que vale a pena ser contada, pois, além de ser comandado por mulheres, temos uma protagonista asiática, uma coadjuvante latina e uma extensa representatividade de mulheres negras e trans.

Agora, quando se trata de mostrar mulheres bonitas em filmes, é quase impossível nos depararmos com a realidade por conta da sexualização das mesmas. Não existe uma pessoa ali, e sim um objeto do desejo masculino. As Golpistas mostra esse retrato da mulher, porém é o lado feminino, como ela usa sua aparência para vencer e pagar as contas.

Constance Wu (Destiny) passa a ideia da mocinha que se importa com a família e quer melhorar sua vida, mas de forma alguma isso a torna ingênua. Ela sabe onde está se metendo e tenta lidar com a solidão através do contato com Ramona (Jennifer Lopez). Sua performance é satisfatória, mas ainda faltou um tempero nela, nada alarmante. Parece que ela ainda terá muita oportunidade para brilhar na indústria.

 constance wu

Jennifer Lopez se destaca na pele de Ramona. Sua interpretação é magnética, mostrando que mesmo com 50 anos mulheres podem interpretar qualquer papel tão bem quanto os homens. Sua personagem é enigmática e suas motivações são extremamente convincentes. Ela falha, ela domina e manipula a situação a seu favor e tem um sentimento genuíno para com as outras meninas.

jennifer lopez

Nomes de peso da indústria da música marcam presença, como Lizzo e Cardi B, mas a participação delas é limitada, elas entregam o que foi proposto e foi agradável vê-las em cena. O filme tem uma dose moderada de comédia na pele das personagens de Lili Reinhart e Keke Palmer que apresentam situações cômicas deliciosas com as quais muita gente vai se relacionar.

Para finalizar, o papel dos homens é essencial em As Golpistas, mas insignificantes ao mesmo tempo. Eles não têm nenhum espaço para ofuscar o protagonismo das mulheres, e quer saber? Não fazem falta nenhuma. Apesar de o grupo estar cometendo um crime, você se questiona o tempo todo se você, como mulher e stripper faria a mesma coisa, afinal dinheiro não vai fazer falta para uns caras de Wall Street que afundaram o país roubando. Ainda sim, elas não têm o direito de violar esses homens, que é difícil sentir empatia se você parar para pensar em como as mulheres sofrem diariamente. Afinal, o mundo sempre vendeu a ideia de que a importância do homem vem do quanto ele ganha, enquanto a importância da mulher é do quão bonita ela é.

as golpistas stripper com cliente

A realidade de uma stripper é difícil. Sofre rejeição da família, muitas das vezes é considerada como prostituta, e sua escolha profissional sempre têm a ver com o fato de que ela sofreu algum trauma. O que nem sempre é verdade. Então fica a reflexão, por que o dinheiro de uma stripper vale menos do que o de um executivo que é capaz de ser muito mais corrupto que uma profissional do sexo? É dinheiro que paga as contas da mesma forma e dinheiro não é uma forma de sucesso? Quando se trata de uma mulher, depende muito na nossa sociedade.

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as golpistas poster
País: EUA
Idioma: Inglês

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