Apostando no público cristão, A2 Filmes lança produção polonesa sobre a vida de São Maximiliano Maria Kolbe
Filmes religiosos sempre marcam a época de fim de ano. Junto da Páscoa, o Natal é geralmente acompanhado de uma enxurrada de lançamentos de produções que buscam alcançar os fiéis e quem sabe até atrair novos seguidores para a fé cristã. Este parece ser um dos objetivos do filme Duas Coroas, documentário/biografia da vida de Maximiliano Maria Kolbe, padre franciscano canonizado em 1982 pelo Papa João Paulo II. No entanto, a forma escolhida para retratar a vida deste homem santo acaba falhando em chegar ao coração do espectador.
Logo no início da projeção, o pequeno Rajmund Kolbe conta para sua mãe sobre uma visão que tivera da Virgem Maria. Nela, lhe foram apresentadas duas coroas: uma branca representando a pureza, e outra vermelha representando o martírio. Perguntado sobre qual delas escolheria, o menino responde: “escolho as duas”. Em decisão semelhante, o longa ao invés de escolher entre o drama ou o documentário também opta pelos dois, mas sem alcançar um resultado satisfatório. Alternando entrevistas com estudiosos e pessoas que conheceram o padre franciscano e dramatizações de alguns momentos importantes na vida do sacerdote, Duas Coroas se mostra pouco inspirado em sua estrutura. Grande parte do filme se resume a uma entrevista descrevendo um acontecimento seguida de uma dramatização deste mesmo acontecimento.
Isto acaba minando qualquer tentativa de estabelecer uma relação emocional entre o filme e o espectador. Por mais que a trilha sonora faça questão de sublinhar a solenidade da história contada e de seu protagonista, as partes dramatizadas servem apenas como meras ilustrações de certos aspectos do personagem principal. Mesmo que bem atuado pelo elenco principal, são como esquetes que poderiam ter como título palavras-chave que descrevessem características de Maximiliano: “altruísta”, “caridoso”, “sábio” etc. Até o clichê “ciência vs fé” marca presença em um desses momentos, no qual vemos um médico se mostrar cético em relação a fé de Kolbe apenas para ser desacreditado pelo milagre operado pelo padre. O que seria um pecado menor se ao menos um tempo maior fosse dado a essa parte do filme. Ao menos alguns de seus recursos visuais são bem utilizados, como as fotos de arquivo que ganham profundidade e certo movimento.
Dirigido por Michal Kondrat, que também toma para si o papel de narrador da história, o filme acompanha a vida de Kolbe da infância até sua morte de forma completamente episódica, sem um fio narrativo claro. Apenas pulamos de um momento de sua história para outro sem que eles estejam minimamente relacionados. Até fatos que seriam considerados relevantes para a construção do personagem são jogados no meio da história como se fossem de conhecimento público. Depois de mais de uma hora de filme, enquanto subia uma escadaria, o diretor comenta estar cansado e imagina que seria muito mais difícil para Kolbe subir, uma vez que ele só tinha um pulmão, fato esse que não havia sido mencionado antes. No meio disso são apresentadas algumas curiosidades acerca do seu protagonista que se fossem melhor exploradas poderiam render um material muito mais interessante. Sua relação com o espaço sideral, assunto que tanto lhe interessava que teorizava como seria a exploração espacial e como isso serviria para que pudéssemos “observar a obra de Deus”, é usada apenas para enaltecer seu intelecto.
Melhorando consideravelmente em seu terceiro ato, quando chegamos nos últimos anos de vida do padre Kolbe, no campo de concentração em Auschwitz, Duas Coroas nos lembra do porquê certas histórias precisam ser contadas e, mesmo que teime em ser didático demais, tenta nos transmitir a mensagem deixada por ele. É uma pena que isto nos seja apresentada de uma forma tão burocrática.
Ironicamente, em dado momento do filme o diretor nos conta da impressão que o padre tinha acerca do cinema. Segundo ele, a sétima arte poderia ser uma grande ferramenta de evangelização. Não desta vez.
