Filmes biográficos costumam agradar muito o público, ainda mais quando trazem a história das dificuldades, da luta e da superação das pessoas reais a que eles se referem. Era Uma Vez Um Sonho (Hillbilly Elegy), que estreiou recentemente na Netflix, é um desses filmes e ele conta com a história forte do escritor J.D. Vance e com um elenco que possui Glenn Close e Amy Adams (que juntas somam 13 indicações ao Oscar). Porém, como entretenimento o longa deixou muito a desejar.
Baseado no best-seller de mesmo nome do próprio Vance, a película do diretor Ron Howard peca quando deixa de lado o principal tema da obra literária e, como consequência, retira a motivação e a razão de ser do texto do autor original: a carga política que ele contém. É como se o roteiro tivesse espremido uma laranja, jogado o sumo fora e deixado a casca.
Mesmo que as atuações de Close e Adams tenham sido impecáveis (como sempre), nem mesmo elas conseguem tirar o espectador do marasmo que o ritmo do filme impõe. Indo e voltando com eficiência na linha temporal, a película conta a história de um garoto pobre que, encorajado e inspirado pela avó, luta pelo sonho americano. Mas a mãe dependente química e os problemas com a família o perseguem até mesmo quando ele consegue sair de sua cidade natal para estudar em uma das melhores faculdades dos EUA, Yale.
Porém, a boa qualidade técnica (fotografia, maquiagem e figurino todos certinhos), não serve para destacar Era Uma Vez Um Sonho de vários outros filmes de mesmo tema. E a história emocionante, difícil e cheia de contexto em sua forma literária, não tem o mesmo impacto em sua versão cinematográfica – pelo menos não na forma como foi feita, com a motivação política mostrada de forma sutilíssima -, o que o tornou mais uma filme biográfico genérico.
Sendo assim, o que acabo de expor se explica muito bem pelo título do filme em sua forma original e na traduzida para o português. Hillbilly Elegy, em traslado livre, significa “elegia caipira” (o que se explica pelo local de nascimento da avó de Vance, Kentucky, estado americano delimitado pelos Apalaches). Mas estamos falando de Hollywood e, quando traduzido para nossa língua, ganhou um nome ainda mais romântico, Era Uma Vez Um Sonho.
Ora, de “era uma vez” já estamos saturados. Para fazer a diferença, precisávamos de um quê a mais que esse filme infelizmente não conseguiu trazer. The End.