Crítica de filme

Crítica | A sutileza de ‘Vozes e Vultos’

Publicado 4 anos atrás

Às vezes, quando a realidade e a ficção se misturam, surgem grandes histórias. Vozes e Vultos (Things Heard & Seen), da Netflix, não é exatamente uma obra-prima, mas tem um encanto único ao mostrar um lado bem mais sombrio do “sonho americano” misturado a um enredo de fantasma e assassinato. E o mais interessante é que nem os fantasmas nem a polícia são uma presença tão constante assim.

Baseado no livro All Things Cease to Appear, de Elizabeth Brundage, o filme conta a história de Catherine (Amanda Seyfried) e George Claire (James Norton), um casal que se muda para o interior nos EUA e vê seu casamento desmoronar enquanto descobrem que sua nova casa esconde segredos sinistros.

Vozes e Vultos é sem dúvida previsível e, logo no começo, já se sabe que um crime terrível aconteceu, um daqueles que só os vivos são capazes de cometer. Mas por incrível que pareça, isso não atrapalha em nada a experiência cinematográfica do espectador. Existe uma cadência angustiante no desenrolar dos acontecimentos que prende o olhar naquele cenário decadente do interior dos Estados Unidos dos anos 1980; naquela casa centenária que possui um clima tão macabro, porém ao mesmo tempo tão hipnotizante.

Ademais, esse thriller de mistério terrorífico se encaixa muito bem à época em que se passa. É notável a ausência do colorido, brilhos e paetês que caracterizaram os anos 1980 no figurino dos personagens, o que denota não só o conservadorismo da região interiorana, mas também faz a conexão com os antigos moradores daquela residência. E no entanto, os detalhes sutis das influências daquela década estão ali, na música de Joe Jackson e no cabelo do jovem fazendeiro Eddie (Alex Neustaedter).

vA decadência, portanto, está em tudo: na casa, no casamento dos protagonistas e principalmente no estilo de vida, os anos 1980 se mostrando como uma fase de transição de toda uma cultura. O tom sobrenatural e policial dão um tempero muito bem-vindo que, mais do que tudo, revelam uma ânsia há muito reprimida de justiça feminina contra o machismo que vigorava forte e que começava a ser combatida. E tal ânsia é brilhantemente interpretada pela sempre talentosa Amanda Seyfried. James Norton também não fica muito atrás, personificando esse pseudo marido perfeito que, aos poucos, vai se revelando.

A parte ruim, no entanto, é que o filme, mesmo com uma duração considerável de 121 minutos, não consegue desenvolver muito bem tudo o que propõe durante a narrativa, como a personagem de Ana Sophia Heger, Franny, a filha de Catherine e George, a personagem de Rhea Seehorn, Justine e a personagem de Natalia Dyer, Willis. E mesmo o final não é tão satisfatório, ou seja, o filme termina antes de terminar num cenário meio dantesco.

Portanto, não resta dúvida de que Vozes e Vultos é um bom exemplar de seu gênero, um filme instigante que a pegada sutil e o elenco competente potencializam de forma muito positiva. Parece paradoxal dizer que, mesmo previsível e não explorada como poderia pelos diretores Shari Springer Berman e Robert Pulcini, a história é surpreendente.

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Vozes e Vultos Poster
País: EUA
Idioma: Inglês

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