Daenerys Targaryen é uma das personagens mais conhecidas da última década graças à série Game of Thrones, da HBO, e à icônica atuação de Emilia Clarke, que a imortalizou. Já Rhaenyra Targaryen, sua ancestral, ainda não tem tal fama… Ainda.
Estamos (assim espero!) há poucos meses da estreia de House of The Dragon – obra baseada no livro Fogo e Sangue, também de autoria de George R. R. Martin -, que contará a história da Dança dos Dragões – a guerra civil Targaryen que dividiu os Sete Reinos e quase destruiu o Westeros cerca de 200 anos dos acontecimentos originais.
Na data em que escrevo este artigo, sabemos que Rhaenyra será interpretada por duas atrizes, uma mais jovem (Milly Alcock) e outra mais velha (Emma D’Arcy), o que obviamente indica uma passagem de tempo muito maior do que aquela de Game of Thrones. Também por motivos óbvios, já que a série ainda não foi lançada, não há como saber se as duas atrizes, ou pelo menos uma delas, chegará ao nível de Clarke e sua Daenerys. Por isso, focarei minha análise nas personagens do livro e, quem sabe, no futuro, depois do fim da série, estarei apta a produzir outro texto comparando as atuações da TV.
Digo de antemão, no entanto, que mesmo a análise literária não será tão fácil, uma vez que a jornada de Daenerys ainda não está terminada – há mais de dez anos que esperamos o lançamento de Ventos do Inverno, o sexto livro das Crônicas de Gelo e Fogo -, ao passo que a de Rhaenyra já está pronta e acabada, mas mesmo assim, já existe bastante material para comparação.
Alerto para aqueles que querem assistir à série sem conhecer absolutamente nada da nova personagem, que o texto a seguir CONTÉM SPOILERS.
Aparência física
A mais óbvia das semelhanças entre as duas princesas Targaryen é, evidentemente, a aparência física. Tanto Daenerys como Rhaenyra possuem os cabelos loiro-prateado da família, característica marcante da Casa do Dragão.
“Apesar de só ter seis anos quando seu pai assumiu o Trono de Ferro, Rhaenyra Targaryen era uma criança precoce, inteligente e ousada e linda com uma beleza que só alguém com sangue do dragão pode ter. (Fogo e Sangue, Vol. 1, George R. R. Martin; tradução Leonardo Alves e Regiane Winarski. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Suma, 2018 – pág. 300)
Mesmo assim, Rhaenyra é descrita pelo próprio Martin como “uma menina rechonchuda e uma mulher corpulenta, de cintura grossa e seios muito grandes. Ela era muito orgulhosa e teimosa, e havia uma certa petulância em sua pequena boca. (…) Tinha o cabelo prateado-dourado dos Targaryen, que ela usava longo e trançado na maneira da esposa guerreira de Aegon, o Conquistador, Visenya.” (So Spake Martin: Good Queen Alysanne and Rhaenyra, 18 de junho de 2006).
Sendo assim, conhecemos Rhaenyra desde tenra idade até o momento de sua morte, quando já era uma mulher de meia idade, cansada de guerra e calejada pelos tapas da vida.
Por outro lado, na primeira vez que vemos Daenerys, ela tem treze anos e desabrochava como mulher, e a primeira característica ressaltada, é a cor de seus olhos.
“- A cor realçará o violeta de seus olhos. (…). – Deixe-os ver que agora tem a forma de uma mulher – os dedos do irmão roçaram levemente seus seios em botão e apertaram um mamilo.” (A guerra dos tronos / George R. R. Martin; tradução Jorge Candeias. – 16ª reimpressão. – São Paulo: Leya, 2010 – pág. 25)
Depois, os cabelos.
“A mulher mais velha lavou seus longos cabelos esbranquiçados e removeu suavemente os nós com uma escova, sempre em silêncio.” (A guerra dos tronos / George R. R. Martin; tradução Jorge Candeias. – 16ª reimpressão. – São Paulo: Leya, 2010 – pág. 27)
Não há dúvidas, porém, que mesmo enquanto possuíam idades parecidas, Daenerys supera sua ancestral em beleza, e não era corpulenta…
“- Que o Senhor da Luz a banhe em bênçãos neste tão afortunado dia, princesa Daenerys – disse o Magíster quando lhe tomou a mão. (…) – Ela é uma visão, Vossa Graça, uma visão – exclamou, dirigindo-se a Viserys. – Drogo ficará arrebatado. – É magra demais – disse Viserys. (…) – Olhe para ela , esses cabelos loiro-prateados, esses olhos púrpuros… ela é do sangue da antiga Valíria, sem dúvida, sem dúvida…” (A guerra dos tronos / George R. R. Martin; tradução Jorge Candeias. – 16ª reimpressão. – São Paulo: Leya, 2010 – pág. 28)
Cavaleiras de dragão
“Aos sete anos, ela se tornou cavaleira de dragões e subiu ao céu na jovem dragão que batizou de Syrax, em homenagem a uma deusa da antiga Valíria.” (Fogo e Sangue, Vol. 1, George R. R. Martin; tradução Leonardo Alves e Regiane Winarski. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Suma, 2018 – pág. 300)
Como é possível perceber pelo trecho acima de Fogo e Sangue, Rhaenyra se tornou cavaleira de dragão muito antes de Daenerys, que tinha o dobro de sua idade quando subiu pela primeira vez em Drogon.
Tal fato é completamente compreensível quando entendemos que, nos tempos mais recentes, os dragões eram considerados extintos, ao passo que que na época de Rhaenyra os grandes animais podiam ser vistos em todo o seu esplendor voando aos montes pelos céus de Westeros. Testemunhar o renascimento deles, aliás, é um dos pontos altos das Crônicas de Gelo e Fogo.
No entanto, como que para compensar os anos de diferença como cavaleira, Daenerys ganha de uma vez não somente um, mas três dragões, enquanto sua ancestral possuía somente Syrax. Mesmo assim, porém, ela lida com seus “filhos” com a mesma naturalidade com que Rhaenyra cuidava da sua dragão fêmea.
Infância
Aos oito anos, a princesa foi posta em serviço como escanção… mas do próprio pai, o rei. À mesa, em torneios e na corte, o rei Viserys raramente era visto sem a filha ao lado.” (Fogo e Sangue, Vol. 1, George R. R. Martin; tradução Leonardo Alves e Regiane Winarski. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Suma, 2018 – pág. 300)
A infância das duas princesas talvez seja o aspecto que mais se difere em suas vidas. Rhaenyra era a menina dos olhos de seu pai, seu orgulho e sua herdeira declarada. Ela passou os primeiros anos de sua vida sendo preparada para se tornar rainha, além de tê-los vivido com todas as regalias que a Corte podia proporcionar.
Já Daenerys não teve tanta sorte. Aos treze anos, quando a conhecemos, ela nem sequer conhecia o lugar onde nascera, e vivera até então, como fugitiva, no Essos, sob a “proteção” de seu irmão mais velho, Viserys.
“E o dragão talvez recordasse mesmo, mas Dany não. Nunca vira aquela terra que o irmão dizia que lhes pertencia, esse domínio para lá do estreito mar. (…) Viserys era um garoto de oito anos quando fugiram de Porto Real para escapar ao avanço dos exércitos do Usurpador, mas Daenerys não passava de uma partícula de vida no ventre da mãe. (…) Nascera em Pedra do Dragão quatro luas depois da fuga, durante a fúria de uma tempestade de verão que ameaçava destroçar a estabilidade da ilha. (…) Tampouco se lembrava de Pedra do Dragão. Tinham fugido de novo, imediatamente antes de o irmão do Usurpador zarpar com sua nova frota. (…) A guarnição estava preparada para vendê-los ao Usurpador, mas, uma noite, Sor Willem Darry e quatro homens leais invadiram o quarto das crianças, raptaram-nas e sua ama de leite, e zarparam sob a escuridão da noite em busca da segurança da costa bravosiana. (…) Nessa época viviam em Bravos, na grande casa de porta vermelha. Dany tinha seu próprio quarto, com um limoeiro junto à janela. Depois da morte de Sor Willem, os criados roubaram o pouco dinheiro que lhes restava e em pouco tempo os irmãos foram postos fora da casa. (…) Desde então, tinham andado de um lado para o outro, de Bravos para Myr, de Myr para Tyrosh e daí para Qohor, Volantis e Lys, sem nunca ficarem muito tempo no mesmo lugar.” (A guerra dos tronos / George R. R. Martin; tradução Jorge Candeias. – 16ª reimpressão. – São Paulo: Leya, 2010 – págs. 26-27)
Depois disso, Daenerys foi vendida pelo irmão a Khal Drogo, foi estuprada, passou fome, engravidou, perdeu o filho e sofreu amargamente antes de entender quem realmente era e o que podia fazer, coisa que Rhaenyra já nascera sabendo.
Por outro lado, todo o sofrimento de Rhaenyra – que aconteceu muito pelas consequências de seus próprios atos -, começaram somente a partir da morte do rei Viserys, o estopim para o começo da Dança dos Dragões – tema escolhido para ser o centro de House of The Dragon -, mas isso não quer dizer que ele tenha sido menor.
Carisma
No entanto, ambas as princesas são extremamente carismáticas e todos que as conheciam caíam de amores por elas.
“No meio da alegria, amada e adorada por todos, estava a única filha viva, a princesa Rhaenyra, a garotinha que os cantores da corte chamavam de Deleite do Reino. (Fogo e Sangue, Vol. 1, George R. R. Martin; tradução Leonardo Alves e Regiane Winarski. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Suma, 2018 – pág. 300)
Tanto é verdade sobre o poder da princesa que, quando a guerra começou, metade dos Sete Reinos ficou do lado dela.
Com Daenerys não era diferente embora em escala muito menor, uma vez que ela vivia, lembre-se, como fugitiva, mas a garota cativava imediatamente todos que colocavam os olhos sobre ela.
Loucura
Como já sabemos, os Targaryen possuem uma propensão muito forte para o gene da loucura, como prova a história da família. Alguns poucos, como Jaehaerys e sua mulher, a Boa Rainha Alysanne, viveram livres dessa tristeza.
Não entendo que Rhaenyra possa ser chamada de louca como muitos de seus parentes (bem, talvez só um pouco!). Sua personalidade era muito forte, como a de muitas outras mulheres da família como Visenya, Rhaena e a própria Alysanne antes dela. A princesa sempre fora mimada e “estourada”. Depois da morte de seu pai e as provocações e atos de Alicent Hightower, sua madrasta e inimiga, seus acessos de raiva tornaram-se mais regulares, o que é compreensível, embora não justificassem o que ela fazia quando estava sob seu domínio.
Daenerys também adquire uma personalidade formidável depois que sua inocência vai sendo gradativamente deixada para trás, como pudemos observar nos livros já publicados, e ela se torna louca como seu pai, Aerys II, se tomarmos como verdadeiros os acontecimentos da série. No entanto, o arco da personagem ainda não se fechou, uma vez que as Crônicas ainda não foram finalizadas na literatura. Talvez, algo um pouco diferente aguarde a última princesa dragão.
Conclusão
Os caminhos de Dany portanto, ainda não estão definidos, mas não há dúvida de que ela é sim descendente de Rhaenyra, não é mesmo? Ambas são belas, ambas são fortes, ambas têm o sangue do dragão, ambas são Targaryen e há espaço para as duas em nossos corações!