Todas as Garotas do Presidente (ou Dick) é um filme estadunidense de 1999, escrito e dirigido por Andrew Fleming. A história acompanha as desventuras de duas garotas: Betsy (Kirsten Dunst) e Arlene (Michelle Williams). Elas são aparentemente normais, mas se envolvem em confusões durante o escândalo de Watergate, que resulta na renúncia do ex-presidente Richard Nixon (interpretado por Dan Hedaya).
Esse primeiro parágrafo pode soar estranho para o leitor, pois temos uma política de não abordar temas políticos aqui no site. Todos os colunistas concordaram com essa decisão. Assim, evitamos tomar partido na análise da arte, que deve ser objetiva. Então, por que falamos sobre um filme ligado à política? Apesar do tema espinhoso, Dick tira sarro das narrativas grandiloquentes que santificam ou demonizam políticos, jornalistas, partidos e momentos históricos.
Toda arte possui um viés, e o cinema não é diferente. Aqui, todavia, a intenção é debulhar qualquer lado político que se movimenta no período histórico retratado. O filme traz os pés do espectador ao chão e o faz ver os eventos a partir do ponto de vista não convencional de nossas protagonistas: adolescentes em idade escolar.
Quem assistiu Forrest Gump lembra dos momentos em que o personagem de Tom Hanks esbarra em eventos da história dos EUA. Ele não percebe o impacto que sua sorte (ou azar) tem nesses episódios. Em um momento do filme de Zemeckis, Gump se vê envolvido no escândalo retratado no filme de Andrew Fleming. Agora, imagine um filme inteiro com essa premissa! Está feito!
As qualidades do filme estão na inocência de Betsy e Arlene. Elas moram no conjunto residencial Watergate, onde havia um comitê do Partido Democrata para as eleições de 1972. Porém, a rotina das duas mudam quando pessoas ligadas a Richard Nixon invadem o prédio. Elas, sem querer, estragam os planos dos invasores e estouram um escândalo.
Preocupado com a situação, o presidente dos EUA quer saber se as moças são bem-intencionadas. Ele tenta mantê-las próximas à Casa Branca, oferecendo-lhes um emprego fictício de “passeadoras oficiais do cachorro presidencial”. Porém, essa proximidade as envolve cada vez mais na louca teia de mistérios do caso.
Você pode imaginar que como as garotas são puras e apenas levadas a situações por grandes personagens históricos. Mas as personagens históricas também são estúpidas, bobas e confusas, como qualquer pessoa. Isso torna tudo mais engraçado e, muitas vezes, interessante.
Richard Nixon está longe de ser o estrategista maquiavélico retratado no filme de Oliver Stone, lançado cinco anos antes. Só que o filme também não poupa Bob Woodward e Carl Bernstein. Aqui, a dupla de jornalistas que publicou as denúncias do escândalo é interpretada por Will Ferrell e Bruce McCulloch, de forma oposta à dupla de Todos os Homens do Presidente (Robert Redford e Dustin Hoffman), que são birrentos, infantis e egocêntricos.
Essa abordagem torna Todas as Garotas do Presidente um excelente exemplo de como nos aproximamos de grandes eventos da história. Mas apenas depois do tempo adequado para um distanciamento histórico, percebemos o quanto esses eventos nos marcam pessoal e geracionalmente. Ao fim e ao cabo, questões político partidárias, parecem pequenas perto do impacto dos eventos da História nas situações no dia a dia das pessoas comuns.
Fazer comédia é difícil. A personalidade atrapalhada dos personagens pode tornar o ritmo de Todas as Garotas do Presidente repetitivo e pouco inteligente. Mas, por trás disso, encontramos ótimos momentos que fazem valer a pena assistir o filme, pelo interesse histórico e pelo bom trabalho das protagonistas.
Portanto, através do olhar descontraído e politicamente descompromissado de Betsy e Arlene, o filme nos convida a rir e a ponderar sobre as complexidades do poder. Ao ridicularizar figuras políticas e suas narrativas, Todas as Garotas do Presidente nos lembra que a história é muitas vezes moldada por quem menos se espera. Quando terminamos de assistir, ganhamos uma nova perspectiva: a grandeza dos eventos históricos, as vezes, é melhor compreendida pelos olhos da inocência.