Crítica | AmarAção não consegue amarrar o público

Os franceses são conhecidos por gostarem muito de um realismo e rejeitarem a visão mais romântica de Hollywood. Os co-diretores Marc e Eric Belhassen, franceses, não negam essa característica que é bastante perceptível em seu mais novo filme, AmarAção. Porém não estamos falando aqui de uma película francesa e sim de uma obra totalmente nacional. Dessa forma, naturalizado e radicado no Brasil há mais de 20 anos, Eric Belhassen já está mais do que acostumado com nosso “jeitinho”, do qual ele ele também usa e abusa em sua obra.

Foi assim que nasceu AmarAção, cujo título com trocadilho muito criativo conta a história de Eric (Eric Belhassen) que, depois de se separar de sua mulher, Helena (Ana Carolina Godoy), começa a apresentar sintomas físicos e psicológicos (ele escuta a voz da ex) e acredita que foi enfeitiçado por ela. Seu melhor amigo, Caco (Caco Ciocler), faz chacota da situação, mas quando ele também se separa da namorada, Karen (Luisa Micheletti), pensa em recuperá-la por meios pouco ortodoxos.

Portanto, qual foi o resultado dessa mistura brasileira-francesa? Um filme bem maluco, sem pé nem cabeça e genuinamente chato. Mesmo assim, a obra tem seus méritos como, por exemplo, mostrar muito bem a realidade da classe média baixa brasileira e, quanto a isso, os cenários apresentados são muito bem feitos e não deixam a desejar. Mas de resto pouco se salva, principalmente no que se refere ao enredo e, mais ainda, às atuações. Da lista de péssimas interpretações – que vai desde os protagonistas até os coadjuvantes -, nem Ciocler, já consagrado em nosso meio artístico, pode ser riscado, estando longe de ter apresentando o seu melhor trabalho. Somente por isso, o filme perde preciosos pontos.

Porém os problemas não param por aí. AmarAção parece nunca se encontrar e atira para todos os lados tentando acertar em alguma coisa, porém sem sucesso. O filme procura nunca se afastar da comédia, mas apresenta uma série de situações bizarras que envolvem uma mistureba de religiões e magia negra que, sinceramente, da forma como apresentada, não funciona. Fora isso, as escolhas estilísticas ruins só não são mais fracas do que o próprio enredo, que revela sua fragilidade quando se resolve, no final, por meio de soluções ex machina, a forma mais fácil de fechar uma história que não se sustenta.

Para trabalhar com exemplos, a obra utiliza cortes rápidos demais, às vezes alterna entre as cores e o preto e branco sem a menor razão, tem uma trilha sonora fraca, quebra de repente a quarta parede dando um susto no espectador, insere momentos rápidos e sem sentido de terror e, para culminar, retrata as mulheres como megeras.

Portanto, é uma pena perceber que, mais uma vez, falhamos num filme. A proposta de AmarAção poderia ter dado algo bem interessante, mas em vez disso prefere ficar flutuando em torno de um protagonista chato e suas neuras amalucadas.