Crítica de filme

Bela Vingança

Publicado 4 anos atrás

Essa analogia vai parecer um pouco estranha para dar início ao texto, mas acompanhe. Sabe quando você vai a uma exposição ou vê fotos de uma exposição na internet que contém obras de arte horrendas ou fotografias de pessoas famintas que estão à margem da sociedade, mas sob uma ótica bonita? Chega até a ser poético, não é mesmo? Nos esquecemos de todo o horror por trás daquela figura só porque está em uma moldura bonita e uma luz favorável. Bela Vingança (Promissing Young Woman) passa a mesma ideia!

Toda a estética do filme é uma grande ironia do mundo feminino, desde sua trilha sonora animadinha a estética colorida e perfeccionista. Existe até mesmo uma sutileza na escolha do elenco. A presença de Jennifer Coolidge é aquele velho lembrete de que um dia ela foi a mãe do Stifler em American Pie, um filme que diz muito sobre seu tratamento em relação às mulheres. Aqui ela é uma mãe atormentada e muito longe do sex symbol que foi nos anos 90. Tudo isso é um alerta ao espectador –  não importa a beleza em como as coisas são apresentadas, nada disso oculta a tragédia que assolou a vida de Cassie (Carey Mulligan). 

A protagonista passa as noites em bares fingindo que está bêbada para que os homens a levem para casa. Obviamente, eles esperam ter uma relação física com a moça, mas o que eles não esperam, é que ela não está realmente bêbada. O que acontece depois que ela se revela? Você terá que assistir o filme para saber a resposta, mas eu adianto que as atitudes dela não vão agradar a todos, e isso porque o público teve reações mistas a elas. Você pode amar ou odiar.

Esse breve resumo é apenas a ponta do iceberg narrativo. À medida que a história avança, todos os mistérios que nos instigam a todo momento são desenrolados de forma magistral. Por que Cassie não quer nada da vida? O que a impede de buscar coisas melhores para si e não contentar-se com o mínimo? Como o título original sugere, ela é uma mulher jovem e promissora que está “desperdiçando” seus anos buscando uma espécie de propósito no trauma que vivenciou. A custo de quê? E antes de falar que as ações dela são fracas ou não causam tanto impacto, pergunte-se se no lugar dela e com os recursos que ela possuía, você teria coragem para sair toda semana e se arriscar daquela maneira.

Encontrar com alguém do passado desperta em Cassie um gatilho que a faz realizar a verdadeira vingança do filme: não aquelas que foram apresentadas inicialmente, mas sim, aquela contra todas as pessoas que fazem parte da sua dor. São essas vinganças que nos prendem na cadeira o tempo todo. Mesmo que ela tenha uma atitude cínica, é possível notar o que ela está sacrificando em prol de tudo e é graças à atuação extraordinária de Carey Mulligan que conseguimos torcer para a protagonista a todo momento. Mesmo diante de suas escolhas questionáveis, no final só queremos o melhor para ela e que ela alcance a felicidade que teve por um instante. Inclusive, Carey consegue transmitir vários tipos de mulheres: a de negócios, a juvenil, a casca grossa, a comportada, etc., personalidades que aparecem de maneira tão sutil que você nem percebe que a intenção da diretora era englobar as mulheres em geral. Pois todas, repito, TODAS AS MULHERES sofreram ou vão sofrer um tipo de abuso em sua vida. 

Se você é mulher, esse filme irá te afetar a ponto de gerar alguns gatilhos de situações vivenciadas similares. E se você é um homem, irá se perguntar se no fundo, no fundo, você é realmente um cara legal. É esse tipo de impacto que o roteiro de Emerald Fennell causa. Gostando ou não da obra em geral, Bela Vingança vai ficar pregada na sua mente durante muito tempo, especialmente depois de seu desfecho. Te desafio a não debatê-lo com pessoas próximas.

Com cinco indicações ao Oscar – incluindo Melhor Filme – Bela Vingança teve um histórico ascendente na temporada de premiações. Isso mostra a repercussão que o filme causou na indústria. Mesmo com poucas chances de arrematar um dos prêmios no dia 25 de abril, é bom parar para analisar que, cada vez mais, histórias como essa tem ganhado os holofotes. O entretenimento é uma ferramenta poderosa para divertir as pessoas, mas ganha muito mais poder quando tem a capacidade de as conscientizar.

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Bela Vingança (2021) - Divulgação Universal Poster
País: EUA
Idioma: Inglês

Uma resposta

  1. eu gostei mt desse filme, mesmo achando que deviam ter falado mais sobre oq ela fazia com as suas “vítimas”, até pq ela se arriscava demais fazendo as emboscadas pra simplesmente sair de boas … mas acho q pra passar a msg que precisava, o enredo foi redondo. Essa análise da mãe do Stifler foi sensacional, eu n tinha pensado por esse lado … parabéns, amei a resenha 🙂

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