Crítica de filme

Crítica 2 | Looney Tunes: O Dia Que A Terra Explodiu

Publicado 2 dias atrás
Nota do(a) autor(a): 3.5

Não é todo dia que se vê um estúdio disposto a soprar vida nova em personagens que nasceram antes mesmo da televisão a cores. E menos comum ainda é ver esse esforço resultar em algo que, apesar da pintura moderna, pulsa com a mesma alma do original. Looney Tunes: O Dia que a Terra Explodiu é exatamente isso: uma tentativa honesta e, surpreendentemente bem-sucedida, de colocar o desenho de volta em órbita — literalmente.

O filme não se esquiva do absurdo. Na verdade, ele o abraça com gosto. Uma trama sobre chicletes alienígenas que controlam mentes poderia facilmente ser um desastre. Mas aqui, o exagero é celebrado como linguagem. A premissa ridícula é justamente o que autoriza a liberdade criativa visual e cômica que sempre definiu os Looney Tunes. E nesse aspecto, o longa acerta em cheio. É psicodélico, elástico, colorido até o limite do aceitável. A estética é vibrante, sem perder o charme do traço clássico. Há uma reverência evidente ao passado, mas com um toque moderno que inevitavelmente instiga.

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Patolino (dublado em português por Márcio Simões) domina a narrativa. Seu ego inflado e sua teimosia sem limite são hilários — e mais relevantes do que nunca num mundo saturado de autoconfiança tóxica. Gaguinho (Manolo Rey), como sempre, age como a bússola moral e emocional do filme, mesmo tropeçando em sílabas. Funciona. Os dois juntos têm uma dinâmica que continua sendo um dos pilares mais fortes do universo Loonático. A participação de Petúnia (Carol Crespo) é também extremamente certeira; espirituosa, assertiva, e com um charme retrô.

Costumo achar que o humor é um dos aspectos mais difíceis de acertar dentro do cinema, e um dos mais sensíveis. Felizmente, O Dia que a Terra Explodiu entende isso. Em vez de tentar encaixar piadas “modernas” de forma forçada, ele aposta na ausência completa de sentido, nas piadas físicas, e no ritmo cômico que sempre foi marca registrada da franquia. Claro, há momentos em que o filme parece mirar mais nos adultos nostálgicos do que nas crianças — como algumas referências a distopias tecnológicas ou ao colapso da vida em sociedade via fast food e redes sociais, sempre sob disfarce de sátira.

Ainda assim, o filme não escapa de escorregões. O terceiro ato é acelerado demais, e pouco pode respirar. Alguns personagens clássicos fazem falta — SIM, eu gostaria do Pernalonga no meu filme de Looney Tunes. Além disso, embora a animação seja de altíssimo nível, há momentos em que a velocidade e o caos visual beiram o confuso.

Mas são tropeços compreensíveis. O saldo final é de puro respeito. O filme, talvez surpreendentemente, não soa apenas como produto. Há afeto na forma como os personagens se movimentam, nas pausas entre uma explosão e outra, nas pequenas expressões desenhadas com um carinho que só fãs de longa data saberiam aplicar. Looney Tunes: O Dia que a Terra Explodiu é, acima de tudo, uma marca de admiração — louca, barulhenta e cheia de chiclete — por um legado que parecia impossível de traduzir para os dias de hoje.

Pode não ser perfeito, mas é autêntico. E isso, no meio de tanto reboot sem alma, é uma vitória.

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looney tunes o dia que a terra explodiu poster

Looney Tunes: O Dia Que A Terra Explodiu

The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie
L
País: Estados Unidos
Direção: Peter Browngardt
Roteiro: Darrick Bachman, Peter Browngardt, Kevin Costello
Elenco: Eric Bauza, Candi Milo, Peter MacNicol
Idioma: Inglês

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