Crítica | ‘Escape Room 2: Tensão Máxima’ mantém o clima tenso, mas apresenta uma trama bastante fraca

Com pouca originalidade, sequência se revela nada convincente...

O primeiro filme da franquia Escape Room surpreendeu positivamente a audiência ao apresentar um conceito não tão original, mas que mesmo assim se mantém atual, especialmente pelo fato de haverem comunidades de pessoas que realmente se aventuram nos famigerados escape rooms, locais enclausurados onde um grupo de pessoas é obrigado a coletar pistas espalhadas pelo cenário a fim de encontrar uma saída do local. A premissa da película apresentava uma situação semelhante à da vida real, com a pequena (grande) diferença de que falhar nos jogos significa perder a vida.

Apesar de possuir vários elementos para falhar, o longa consegue acrescentar originalidade e algum vigor apresentando cenas de personagens sendo sacrificados em um jogo doentio, mas apostando no suspense e na tensão, sem de fato esbanjar violência gráfica e tortura (como as mutilações da franquia Jogos Mortais). Assim sendo, Escape Room 2: Tensão Máxima tem início pouco tempo após os eventos do primeiro longa, quando apenas dois personagens foram capazes de sobreviver aos jogos e que agora se uniram para derrubar a poderosa instituição responsável pelos jogos.

Porém, logo no começo de sua arriscada jornada, Zoey (Taylor Russell) e Ben (Logan Miller) se veem presos em um novo jogo, composto apenas por sobreviventes (campeões) dos jogos anteriores. Ao invés de um quarto com passagens que levavam a ambientes com climas hostis e outras ameaças, agora o perigo está dentro de um vagão de metrô, onde além de estarem presos em um local apertado, precisam enfrentar uma corrente elétrica que irá eletrocutá-los se não coletarem as pistas para encontrar a saída a tempo.

O filme possui duas subtramas paralelas, sendo que a subtrama principal, a dos protagonistas, segue exatamente a mesma fórmula do filme anterior, com os personagens lutando desesperadamente por suas vidas, enquanto alguns tomam atitudes extremamente estúpidas e outros, os mais sensatos, acabam por encontrar as pistas necessárias para sua sobrevivência.

Agora a ambientalização da misteriosa organização responsável pelos jogos ganha novos rostos. Se no filme anterior pouco se via dos membros da instituição, mas era nítido que muitos deles eram corruptos (chegando a ponto de burlar as regras dos próprios jogos), aqui somos apresentados a uma família problemática: o pai, responsável por um alto cargo na instituição; a mãe que não aceita seu ofício; e a filha problemática, Claire (Isabelle Fuhrman), que após o brutal assassinato de sua genitora (por meio, obviamente, do engenhosos e sádicos jogos), acaba sendo mantida como prisioneira em um quarto de vidro pelo próprio pai e sendo obrigada a projetar os jogos a serem utilizados pela instituição.

Com uma premissa interessante e seguindo à risca vários dos elementos que fizeram estourar o primeiro filme, este segundo longa é extremamente problemático. As cenas de tensão e a inventividade dos jogos e as ameaças contra os personagens se mantém bastante criativas e interessantes, porém os acertos da obra ficam por aí mesmo, já que todo o principal, o enredo, é fraco e beira o preguiçoso.

Muitas são as incoerências do roteiro, especialmente em relação às atitudes impensadas e ingênuas cometidas pelos protagonistas, que até podem ser justificadas ao se considerar a tenra idade de ambos. Pelo menos, em partes, já que não vemos estes personagens interagindo com amigos nem com familiares (no primeiro filme eles já aparecem como desconhecidos em um quarto, mas agora já tiveram tempo de recorrer aos seus entes para obter ajuda) e simplesmente resolvem agir por conta própria a fim de obter evidências pra derrubar uma instituição milionária, tendo apenas seus celulares e sua força de vontade.

E essas são apenas as primeiras das incoerências do roteiro. Conforme a trama vai avançando já para o terceiro ato, descobre-se que Claire necessitava da ajuda de Zoey para se ver livre das garras de seu pai e da instituição, forçando goela abaixo um elo entre as duas que simplesmente não funciona. Claire supostamente teria começado a considerar Zoey como uma espécie de irmã após tê-la acompanhado durante apenas um dia de jogo e mesmo que ela tenha sido investigada durante algum tempo, para o recrutamento para o jogo, apenas este período de investigação não teria sido suficiente para a criação de um vínculo tão forte.

Outro elemento que o roteiro trabalha de forma negligente é a suposta engenhosidade brilhante de Zoey, tratando-a como um gênio apenas por ela ter se utilizado de um estratagema simples para escapar do jogo anterior e por causa de uma conveniência do roteiro (afinal, a instituição possui recursos para criar estruturas extremamente complexas de jogos de tortura e assassinato dentro de um prédio comercial, sem levantar a suspeita de ninguém, mas não possui recursos suficientes para se livrar de uma garota pequena e fraca?), mas que aqui é tratada como se fosse milagrosamente incapaz de perder os jogos, mesmo que suas atitudes durante o filme não pareçam nada brilhantes. O próprio Ben, que no primeiro filme aparenta ter sido salvo graças à sorte, aqui demonstra ser mais capaz do que a própria Zoey durante as ameaças.

A própria resolução final do filme abre inúmeras lacunas e deixa um gosto de que o expectador foi passado para trás, já que as coisas simplesmente não fazem sentido e o final parece apressado e extremamente forçado.

Em relação às atuações, a protagonista nunca foi o principal destaque na história (já que este cargo era atribuída a Deborah Ann Woll, o único grande nome no elenco) e novamente não demonstra grande potencial de interpretação, mantendo-se quase que majoritariamente com a mesma intenção, com pouquíssimas nuances. Apesar de ser agradável aos fãs de filmes de terror, rever a eterna pseudoassassina-mirim de A Órfã, icônico filme de 2009, ela é subaproveitada no enredo, tendo sua participação completamente forçada, desvalorizando o potencial da personagem que, se fosse melhor trabalhada, poderia ter rendido um filme muito melhor.

Escape Room: Tensão Máxima diverte quando se propõe a gerar tensão e a explorar armadilhas engenhosas em que o próprio aposento onde as pessoas estão é o instrumento que deseja matá-los, mas falha grandemente quando tenta desenvolver uma trama de suspense, com personagens que não fazem muito sentido e desfechos forçados e nada convincentes.

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Nota do(a) autor(a)

/5
Escape Room 2: Tensão Máxima Poster
Título original:
Ano:
2021
País:
EUA, África do Sul
Idioma:
Inglês
Duração:
82 min min
Gênero:
Suspense, Terror
Diretor(a):
Atores:
Taylor Russell, Logan Miller, Deborah Ann Woll, Thomas Cocquerel

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