Confesso que, enquanto assistia Do Sul, a Vingança, senti certa dificuldade em compreender o caminho que o longa pretendia trilhar ao longo da trama. Já escrevendo sobre, tive clareza sobre a proposta, e não posso dizer que fiquei empolgado.
A história acompanha um escritor que investiga crimes reais e usa como método entrevistas com autores diretos desses crimes. Numa dessas missões, ele vai parar no Mato Grosso do Sul para conversar com Jacaré (Espedito Di Montebranco), um homem que comanda a fronteira do estado com Paraguai e Bolívia. Aos poucos, descobrimos que tudo fazia parte de um plano de vingança.
No meio desse plano, temos um político corrupto, que anos atrás foi preso por seus crimes e culpa Jacaré por sua queda. Ele carrega esse rancor como um combustível para a vingança, tentando estabelecer seu antigo poder e usando o caos que se desenrola para atingir seus próprios interesses.
Os personagens se viram como podem, tentando seguir um roteiro que parece em dúvida sobre se deve ou não se levar a sério. É possível até notar bons trabalhos escondidos — como no caso do protagonista Lauriano (Felipe Lourenço) — mas o texto não permite que eles avancem muito, limitando-os a um cenário pastelão e previsível. É decepcionante ver como a obra desperdiça a chance de contar uma boa história a partir de um Brasil único e pouco explorado em tela.
O problema é que Do Sul, a Vingança parece abrir mão justamente do que poderia torná-lo único. É um filme brasileiro tentando emular o formato dos blockbusters americanos, com cenas de ação coreografadas à moda hollywoodiana, mesmo com um orçamento limitado. É vendido como um filme verdadeiramente sul-mato-grossense, mas poderia ter sido gravado em qualquer lugar do mundo, já que, em momento algum, são colocadas em tela as peculiaridades ou histórias de um estado tão forte e único como o Mato Grosso do Sul.
Quando tive o primeiro contato com o longa, ainda pela sinopse, fiquei animado com a ideia de acompanhar uma história de faroeste brasileiro. Foi inevitável não lembrar de Oeste Outra Vez, uma obra que consegue transmitir uma originalidade regional incrível — e que poderia servir como um ótimo exemplo de como criar conexões, contar histórias e traduzir a realidade, mesmo em propostas diferentes.
Embora Do Sul, a Vingança não tenha alcançado todo o seu potencial, ele abre um caminho interessante para o cinema regional brasileiro. A busca por contar histórias fora do eixo tradicional é um passo importante, mas ainda há um longo caminho para que essas narrativas se destaquem de maneira autêntica. Fica a esperança de que filmes futuros consigam explorar de forma mais profunda e original o Brasil que, por tanto tempo, ficou à margem das grandes telas.
No fim das contas, Do Sul, a Vingança é um filme que chama atenção pela intenção, mas tropeça na execução. Faltou coragem para assumir sua identidade e fazer dela um trunfo.
Crítica de filme
Do Sul, a Vingança
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Do sul, a Vingança
Do sul, a Vingança
16
- 107 min.
- 2025
País: Brasil
Direção: Fábio Flecha
Roteiro: Fábio Flecha
Elenco: Felipe Lourenço, Espedito Di Montebranco, Bruno Moser
Idioma: Portugues