Girassol Vermelho é um filme brasileiro de 2025, dirigido por Éder Santos. “É uma intrigante jornada por um futuro distópico, em que Romeu (Chico Díaz) perde, aos poucos, sua identidade em uma cidade que proíbe questionar. O filme estreou no dia 20 de março e está disponível nos cinemas.
Apesar de ser uma novidade no cinema mineiro, mais acostumado a retratar bucólicas paragens, distopias são um tema bem explorado na filmografia brasileira. Bons exemplos incluem Brasil Ano 2000 (1969, dirigido por Walter Lima Júnior), Areias Escaldantes (1985, dirigido por Francisco de Paula), ou mesmo Medida Provisória (2020, dirigido por Lázaro Ramos). Cada uma dessas obras apresenta propostas diferentes de como abordar futuros trágicos para a humanidade. Girassol Vermelho (também conhecido como A Casa do Girassol Vermelho) traz algumas novidades em sua construção.

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O grande trunfo do filme é a habilidade de mesclar elementos distópicos com o surrealismo. As imagens, belíssimas, diga-se de passagem, carregam consigo muito significado, mesmo que provoquem certa perplexidade no espectador. Não é simples, ao menos não parece, criar um drama ao estilo de Kafka e, ao mesmo tempo, fazer referências a outras obras. Em alguns momentos, especialmente durante a prisão do protagonista, Girassol Vermelho evoca filmes como Brazil (dirigido por Terry Gilliam, 1985), sem perder o aspecto lisérgico, típico das obras do falecido David Lynch.
Isso não é uma surpresa, dado que Éder Santos, antes de cineasta, é um videoartista. Logo, muitas das sequências da obra se assemelham mais a instalações artísticas do que a um longa-metragem tradicional. Essa é uma boa forma de ler o filme, uma vez que, ao buscá-lo como um filme convencional, seu sentido pode se diluir. Explorar cada metáfora de forma individual e, posteriormente, montar um quadro completo é uma possibilidade.
Por exemplo, quando Romeu é preso por questionar, ele é levado a uma pequena cabine, onde toma banhos de areia. “A sequência mais impactante dessa atividade, pela forma como a filmam, transmite a sensação de que o personagem se mistura com a areia que cobre seu corpo, a ponto de, mais tarde, vê-lo correr quase como um fantasma em direção à escuridão.Trata-se de uma sequência muito cuidadosa e profunda, que simboliza a perda da identidade do personagem devido à crueldade que sofre nas mãos do regime opressor.
Outra sequência, igualmente genial, acontece dentro da mesma cabine, mas, desta vez, torturam Romeu com água. O Inquisidor (Vinícius Meloni) questiona o protagonista sobre as “lágrimas que ele causou”, enquanto a cabine recebe uma torrente de água. A piada visual das lágrimas e da água encharcando o protagonista, combinada com o diálogo, torna a cena ainda mais impactante. Romeu, já cansado, afirma que “aquilo ali não tem mais razão de ser”, enquanto os cortes da cena — entre a fala abafada de Romeu dentro da cabine e as palavras do inquisidor — intensificam a sensação de que tudo é cada vez mais irracional.
Apesar dos grandes momentos, sobretudo no que diz respeito à especialidade de Éder Santos, o filme peca pela falta de profundidade nas personagens que circulam ao redor do protagonista. O Ditador (Daniel de Oliveira), que aparece como uma espécie de Big Brother, pouco acrescenta à narrativa. Embora represente a personificação de um regime autoritário, sua presença poderia ser mais impactante. Sua participação pouco contribui para o horror transmitido pelas sequências citadas anteriormente. Infelizmente, em uma obra onde não há necessidade de explicações, o filme brasileiro insiste em explicar tudo — e da pior forma possível.
As mulheres que aparecem na trama (Bárbara Paz, Luah Guimarães e Luiza Lemmertz) também parecem pouco acrescentar à jornada de Romeu. Essas participações causam a sensação desconfortável de que a história poderia ser melhor desenvolvida.. Esse é um ponto arriscado, pois, em uma obra surreal, pontas soltas podem ser aceitáveis sem dar a impressão de que a história está incompleta. No entanto, os papéis clichês dessas personagens acabam contradizendo a proposta de liberdade criativa que Girassol Vermelho poderia explorar de forma mais ousada.
Apesar disso, o filme é único. Não é exagero comparar Girassol Vermelho às obras audiovisuais mais conhecidas de Éder Santos. “É uma experiência cinematográfica muito rica, capaz de transmitir medo, tensão, ódio e desespero, sem abrir mão de um detalhamento que traz beleza, mesmo em um cenário tão assustador quanto um mundo onde proíbem questionar — algo que o filme, felizmente, consegue.
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