Com o frescor trazido por Pânico em 1996, o já rastejante gênero slasher ganha sobrevida. A renovação de público alvo e o recarregamento de energias trazidos pelo filme citado foi a força motriz da retomada de interesse por esse subgênero de terror (para saber mais leia o excelente texto do meu professor Luiz Carlos Oliveira Jr.
Isso fez com que o produtor Moustapha Akkad percebesse que havia espaço para maior investimento e, de fato, se há um grande valor agregado em Halloween H20: Vinte Anos Depois, é a volta de Jamie Lee Curtis no papel de Laurie Strode, tendo existido inclusive a possibilidade da volta de John Carpenter como diretor.
Ao perceberem a completa impossibilidade de seguir a história de Halloween 6: A Última Vingança, esse longa descarta os eventos ocorridos em Halloween 4, 5 e 6; prestando tributos ao filme original de 1978 e sua sequência em 1981. O diretor Steve Miner, que também dirige Sexta-Feira 13 – Parte 2 e Sexta-Feira 13 – Parte 3, faz referência à inúmeros outros slashers, sendo um prato cheio para um fã fanático por esse gênero.
Duas décadas depois de sobreviver a um massacre, Laurie ainda é alvo de Michael Myers. Ela agora mora na Califórnia sob uma identidade falsa, mas Myers descobre seu paradeiro. Outro Halloween se aproxima, e Laurie sabe que corre perigo.
É interessante perceber como essa obra, assim como o recente Halloween (2018), propõe uma protagonista já consciente do que está por vir. Mesmo tida como louca pelas pessoas ao seu redor, ela sempre mantém a guarda alta à espera de Myers – e isso é fatalmente o que a salva. Obviamente tratam-se de níveis diferentes já que, no filme de 2018, a vovó Laurie é quase uma guerrilheira, e aqui é apenas uma mulher traumatizada que toma precauções.
Halloween H20 é um filme com ótimas passagens: minha cena preferida é a da porta. Não entrarei em detalhes por se tratar de um comentário sem spoilers, mas é realmente muito bem planejada, construída e executada. Daria um excelente curta de terror.
Apesar de gostar bastante do terço final, acho um filme com sérios problemas de espaçamento na narrativa. Temos um primeiro ato em que nos situamos no mundo e na rotina dos protagonistas, inclusive há a aparição do jovem Joseph Gordon-Levitt, e um terceiro ato de excelente confronto entre Michael Myers e Laurie Strode.
A parte que mais me incomoda nesse longa, porém, é o segundo ato. Parece que os roteiristas não sabiam muito bem o que fazer com os personagens antes do confronto final, então aparentemente nada acontece. Existe romance adolescente, romance de meia idade, romance por telefone. Romance.
De outra feita, algo que sempre me incomodou também foi o absoluto descaso que existe com o rosto (sem rosto) da franquia, Michael Myers. É justificável que exista um maior foco na personagem da Lee Curtis, afinal ela foi uma aquisição cara, e todo o marketing dessa película é voltada para a exploração da volta da atriz como protagonista; porém, acredito que o filme trabalha muito mal a figura do serial killer.
Tem-se aqui novamente uma boa dose de gore, como a cena do elevador – que não irei detalhar -, mas que é absolutamente agoniante de se assistir (porque gostamos tanto disso eu não sei, o fato é que gostamos!).
Você percebe que uma franquia perdeu seu rumo quando busca por renovação com a contratação de sua protagonista original, sendo parte dessa retomada o reencontro do duelo que fez com que Halloween se tornasse um clássico absoluto – por isso, em minha chamada para esse texto digo que Halloween H20 busca renovação, sem inovar.
Halloween H20: Vinte Anos Depois oferece uma boa opção de entretenimento, com mortes divertidas e o tão esperado reencontro Myers x Strode. Tem seus erros, sua incongruências, e especialmente um problema de espaçamento (o que chama a atenção por se tratar de um longa-metragem de apenas 86 minutos), mas apesar dos pesares, e especialmente comparado aos predecessores, a sétima entrada na saga Halloween é um filme que merece seu tempo.
