Crítica | Ron Bugado

O mundo de hoje está mais conectado do que nunca. Do momento em que acordamos até a hora de dormir estamos ligados a dispositivos que nos mantém em constante contato com o resto do mundo, majoritariamente através das redes sociais. Mas quantas dessas conexões são realmente significativas para nós? Quantos laços estabelecemos em nossas vidas? O mais novo longa da Disney (na verdade, uma coprodução da finada Fox, agora 20th Century Studios, com o estúdio Locksmith Animation) Ron Bugado tenta fazer uma crítica ao uso exagerado dessas redes, especialmente por crianças.

A trama não é necessariamente original. Barney é a única criança da cidade que não se rendeu aos onipresentes b-bots, pequenos robôs dotados do “algoritmo da amizade”, desenvolvido pela empresa Bolha (uma espécie de Apple esférica) para ser o melhor amigo das crianças. Criado por uma família de menos recursos e avessa à tecnologia, Barney tem como hobby colecionar pedras, o que o faz sofrer bullying na escola e temer a hora do recreio, quando todos brincam com seus respectivos b-bots. É nesse momento que seu pai resolve lhe dar o cobiçado item de presente de aniversário. No entanto, o mais novo amigo de Barney, Ron, veio danificado e não é igual aos outros robôs de seus colegas de classe. Sem poder atualizar seu sistema e saber automaticamente tudo que Barney gosta, Ron precisa aprender sobre seu dono da maneira antiga, convivendo com ele.

O longa acerta ao fazer essa crítica ao imediatismo dos tempos modernos, um mundo de gratificação quase instantânea, onde o que importa é a quantidade de seguidores e curtidas que uma pessoa tem. As outras crianças vivem de aparências para se tornarem famosas ou reconhecidas, traçando um paralelo óbvio, mas importante, com a geração TikTok e Instagram. Ao focar no desenvolvimento da amizade entre Ron e Barney, conseguimos enxergar a beleza de estabelecer laços reais entre pessoas (e robôs, no caso).

É uma pena que o próprio filme não confia que apenas essa história fosse suficiente para agradar seu público-alvo, inserindo um vilão na figura de um dos donos da Bolha que só visa lucrar a qualquer custo e que acaba por perseguir Ron e Barney. Além de desnecessário para a trama, acaba inchando a duração do filme, que chega perto das duas horas. Isso torna o longa cansativo, mesmo que, aqui e ali, ele consiga criar boas piadas e tenha personagens carismáticos.

Outro ponto negativo fica para a falta de criatividade no design de seu personagem principal. Ron lembra uma versão júnior de Baymax, de Big Hero 6, até mesmo na sua função de ajudar Barney a superar seus medos. Alia-se a isso a voz robótica e a comparação é inevitável. Até podemos argumentar que a forma branca translúcida de Ron em comparação aos outros robôs serve para ilustrar a sua pureza e inocência, mas só depois de repararmos o quão similar ele é ao seu “irmão mais velho”.

Bebendo da fonte de outros filmes de temática similar, como Gigante de Ferro, o próprio Big Hero 6, e até produções mais recentes como Next Gen, Ron Bugado consegue divertir e fazer com que os pais possam discutir sobre a influência das redes sociais com os seus filhos. E isso já é um feito e tanto.

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Nota do(a) autor(a)

/5
Ron Bugado Poster
Título original:
Ano:
2021
País:
EUA, Reino Unido, Canadá
Idioma:
Inglês
Duração:
106 min min
Gênero:
Animação, Aventura, Comédia
Diretor(a):
Atores:
Vozes de Jack Dylan Grazer, Zach Galifianakis, Ed Helms e Olivia Colman

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