Crítica | A política exacerbada de ‘Judas e o Messias Negro’

Seria este filme um produto do seu meio?

Política. Guerra, paz, religião. Tudo é política. O cinema também pode ser político e em Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah), do diretor estreante em longa-metragens Shaka King, ele assume essa faceta tão antiga cuja denominação vem dos tempos em que os gregos ainda estavam organizados em Pólis.

Baseado em fatos reais, o enredo foca em Bill O’Neal (LaKeith Stanfield), que age como informante dos agentes do FBI Roy Mitchell (Jesse Plemons) e J. Edgar Hoover (Martin Sheen) para conter a ascensão do presidente dos Panteras Negras do estado de Illinois, Fred Hampton (Daniel Kaluuya).

Judas e o Messias Negro Fred

Antes de mais nada, portanto, é preciso reconhecer que a ideia inicial de King de, por meio de sua obra biográfica, fazer o grande público conhecer Fred Hampton, os Panteras Negras e sua ideologia, é louvável. Seu roteiro é impecável, cumprindo muito bem o papel a que se propôs. Sim, nós conseguimos ter uma boa ideia do que foi a influência do líder revolucionário e, mais ainda, da culpa de O’Neal por ter agido como traidor. E ainda há um toque de romance muito bem colocado enquanto vemos Hampton se apaixonar por uma colega de partido sem que isso, contudo, desvie o filme de seu objetivo principal.

Judas e o Messias Negro Bill

Faço destaque ainda para a trilha sonora da película, que é realmente notável, especialmente em alguns momentos de tensão quando notas dissonantes se fazem quase como uma das personagens da história, dizendo “cuidado!, isso não vai dar certo.”

E assim, figurino, cabelo e maquiagem, atuações, toda a parte técnica, enfim, fazem de Judas e o Messias Negro, um filme digno de atenção, ainda mais em se tratando de um diretor estreante. Mas um bom filme não se faz só de boas intenções, e o longa perde força quando começa a “endeusar” demais, quando começa a “glamourizar” demais, quando vira político demais. A começar pelo título da película. Comparar um ativista a Jesus Cristo, chamando-o Messias, já nos revela algo sobre o mundo contemporâneo – especialmente de meados do século passado para cá -, o que nos leva a questionar o quanto este filme é produto do seu meio.

Judas e o Messias Negro reunião

É por isso que Judas e o Messias Negro dividirá opiniões e causará reações antagônicas no público. E isso tudo justamente porque é político demais, endeusando em demasia uma pessoa e glamourizando **demais uma causa que ainda agora fervilha em nossos corações, de uma forma ou de outra. Não é diferente de outras obras como Sniper Americano (Clint Eastwood, 2014) ou Diários de Bicicleta (Walter Salles, 2004), mas ganha atenção em razão do momento político atual.

Conclui-se, portanto, que Judas e o Messias Negro segue uma tendência contemporânea, constituindo-se num bom filme sob certos aspectos, mas bastante afetado de outras formas. É uma biografia escrita através da visão de um diretor apaixonado, que soube mostrar muito bem suas ideias. Cabe a cada um internalizá-las como lhe aprouver, já que cada um sabe para que santo reza.

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3 respostas

  1. É muito doido criticar o título do filme porque o PRÓPRIO FBI nomeou o Fred de Messias (e isso não é nenhuma suposição). O título é, de longe, uma das tiradas mais geniais de toda história e crucial pra narrativa apresentada.

    Sobre ser político demais: é impossível falar de BPP sem seguir esse tom. Se alguém assiste esse filme esperando algo diferente é porque não entendeu o motivo dele ter sido feito.

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Nota do(a) autor(a)

/5
Judas e o Messias Negro Poster Maior
Título original:
Ano:
País:
EUA
Idioma:
Inglês
Duração:
126 min min
Gênero:
Biografia, Drama, História
Diretor(a):
Atores:
Daniel Kaluuya, LaKeith Stanfield, Jesse Plemons

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