Crítica de filme

Kraven – O Caçador

Publicado 1 mês atrás
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Mais um filme focado na origem de um vilão do Homem-Aranha chega aos cinemas, novamente sem a presença do herói aracnídeo. Kraven – O Caçador traz Aaron Taylor-Johnson na pele de um dos antagonistas mais clássicos do universo do Homem-Aranha. No entanto, o longa dirigido por J.C. Chandor tropeça em sua missão de dar relevância ao personagem, neste que talvez seja o último filme desse universo cinematográfico bagunçado da Sony.

A trama apresenta Sergei Kravinoff (Aaron Taylor-Johnson), um jovem criado em uma família de caçadores criminosos. Ele cresce ao lado de seu irmão Dmitri (Fred Hechinger), enfrentando a perda da mãe e o relacionamento conturbado com o pai, Nikolai Kravinoff (Russell Crowe). Depois de um ataque de leão que quase o leva a morte na savana, Sergei entra em contato com uma poção milenar que lhe concede poderes sobre-humanos, incluindo força ampliada, sentidos aguçados e a habilidade de se comunicar com animais. Ao romper o relacionamento com sua família, ele inicia sua jornada para se transformar em Kraven, o maior caçador do mundo.

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A essa altura, apontar inconsistências e falhas na criação de universo nestes filmes da Sony seria redundância. Com exceção da trilogia Venom – que, mesmo desgastada, conseguiu construir uma base sólida de fãs – os demais filmes sofrem com histórias mal desenvolvidas e direção pouco criativa. Em Kraven – O Caçador, a intenção de criar uma grande origem para o anti-herói tem como maior falha o desinteressante por seu universo e carência de força, dificultando a criação de empatia com o protagonista.

As relações pessoais de Sergei são limitadas. Sua raiva pelos inimigos e o vínculo de compaixão com Dmitri, seu irmão, são os únicos aspectos explorados na maior parte do longa, sendo este último o ponto mais forte da narrativa e responsável por sustentar a trama na segunda metade. Dmitri, em sua fragilidade e tentativa de adaptação, como “Camaleão” acaba sendo uma figura mais envolvente do que o próprio Sergei.

A atuação de Russell Crowe como Nikolai Kravinoff chega a ser preguiçosa tanto no planejamento quanto na execução. O personagem, que aparentava ter um papel mais relevante pelos trailers, é reduzido a um estereótipo genérico de pai abusivo, com frases de efeito como “você é fraco” e pouca profundidade. Crowe está em um piloto automático, e as motivações e ações extremas de seu personagem, que poderiam dar peso a narrativa, são inexistentes.

Outro problema evidente é o ritmo do filme, frequentemente interrompido por cenas de diálogo expositivas e soluções narrativas convenientes. Um exemplo é a localização de Calypso (Ariana DeBose), advogada que salva Sergei no ataque do leão e, mais tarde, auxilia o protagonista em situações críticas. No entanto, o relacionamento entre os dois é superficial, e a personagem não vai além de ser uma facilitadora para a história.

Curiosamente, os vilões secundários que tendem a ser mais fantasiosos acabam sendo os pontos mais interessantes do filme. O vilão Rhino (Alessandro Nivola), é o clássico charlatão espalhafatoso que agrada o público. Seu visual de batalha impressiona e sua luta com Kraven no terceiro ato acaba sendo a sequência mais empolgante do filme. O Estrangeiro (Christopher Abbott), com sua habilidade de hipnotizar seus inimigos, também se destaca em momentos isolados, trazendo uma sensação de perigo com sua presença em cena.

Assim como em Madame Teia, Kraven – O Caçador mistura conceitos de magia e ciência de forma superficial. Embora o filme seja contido em suas ambições – sem ameaças globais ou destruição massiva –, ele não explora o potencial de seus elementos fantasiosos nem das possibilidades científicas. Para uma origem e criação de universo, pouco interessa ao longa apresentar um mundo conciso. A origem do vilão Rhino e o misticismo em torno da família de Calypso e dos poderes de Sergei são tratados de maneira rasa, enfraquecendo o impacto narrativo.

A conclusão do filme deixa um gancho para uma possível sequência, com uma mudança abrupta no comportamento de um dos personagens. A decisão parece apressada e desconexa, causando a sensação de que foi inserido às pressas e próxima ao lançamento. Com o anúncio do encerramento deste universo cinematográfico pela Sony, a sensação que fica é de que nada disso terá relevância no futuro.

Kraven – O Caçador tende a ser uma presa fácil do esquecimento entre as adaptações de personagens da Marvel. A estreia do icônico antagonista do Homem-Aranha no cinema falha em causar impacto, sofrendo com coadjuvantes desinteressantes, pouca conexão entre o público e o protagonista e, claro, a ausência do herói aracnídeo.

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kraven o caçador cartaz

Kraven - O Caçador

Kraven: The Hunter
16
País: Estados Unidos
Direção: J.C. Chandor
Roteiro: Richard Wenk, Art Marcum, Matt Holloway
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Ariana DeBose, Russell Crowe
Idioma: Inglês, Russo

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