Liam Neeson é conhecido por seus filmes de ação que, mesmo apresentando fórmulas parecidas, marcam alguns sucessos como a franquia Busca Implacável (Taken – 2008-), e o ator de 68 anos é bom no que faz. Dessa vez, em Legado Explosivo (Honest Thief, 2020), do diretor Mark Williams, Neeson interpreta Tom Dolan, um competente e notório ladrão de bancos que, querendo levar uma vida honesta, resolve se entregar só para ser traído por dois agentes do FBI corruptos.
Filmado em 2018, o longa chega aos cinemas brasileiros apenas agora, no começo de 2021, mas está longe de ser o melhor trabalho estrelado pelo vilão de Batman Begins (2005), apesar de superar em muito o entediante Vingança a Sangue Frio (Cold Pursuit – 2019).
A ideia do ladrão honesto não é recente, basta pensarmos em Victor Hugo e sua obra-prima do século XIX, Os Miseráveis, para termos um exemplo. Mas mesmo que não possamos sobremaneira comparar Jean Valjean com Tom Dolan, ambas as personagens conseguem nos cativar desde o início, principalmente quando nos deparamos com as eventuais injustiças e corrupção do sistema de segurança.
Entretanto, mesmo usando de um tema muito interessante e relevante, Legado Explosivo se perde em clichês cansativos. Quando Dolan se apaixona por Annie Wilkins (Kate Walsh) e decide se entregar para aplacar uma repentina culpa, o filme tenta nos vender a ideia utópica de que o amor é capaz de redimir tudo, até mesmo um bandido frio que sente prazer no crime. É no mínimo questionável pensar que a atração por uma mulher pode mudar tanto assim a personalidade de um homem. De outra forma, o carisma de Neeson e sua personagem é suficiente para manter a atenção do espectador durante todo o filme e sua atuação se encaixa perfeitamente no clima criado por Moland. Ex-militar, Dolan é um homem cuja praticidade e calculismo se revelam até mesmo em sua fala calma e cadenciada, traduzida no tom grave da voz do ator.
Por outro lado, temos John Nivens, um vilão típico e sem qualquer escrúpulos interpretado de forma afetada por Jai Courtney. Sobre ele, nada sabemos a não ser que é insatisfeito com sua profissão e remuneração e, por isso, se corrompe. Vazio e fácil de odiar.
Mas se falamos numa redenção por amor mais difícil de engolir, Legado Explosivo tenta equilibrar a luz que joga no desvirtuamento da polícia com uma pontual expiação na figura de Sean Meyers (Jeffrey Donovan), homem de patente superior do FBI cuja construção toda é feita para nos mostrar que ainda existem pessoas honradas em todas as instituições. E ele aparece quase sempre com sua cachorrinha ao lado!
Sendo assim, entre menos tiros, explosões e lutas do que seria esperado de um filme de Liam Neeson, quebrando as expectativas e tornando a película mais parada do que deveria ser, Legado Explosivo se afirma como apenas mais uma obra de entretenimento momentâneo. Bom, mas clichê além da conta. Eficiente, mas esquecível.