Crítica | ‘Pieces of a Woman’ é uma escola de cinematografia

Pieces of a Woman estreiou ontem na Netflix com grandes promessas pra temporada de premiações. O filme do diretor Kornél Mundruczó tem sido aclamado pela crítica especializada e se firmou com a possibilidade de entrar na corrida pelo Oscar. Mas será que o filme é isso tudo mesmo?

Confesso que fui assistir Pieces of a Woman cheia de expectativas, principalmente em relação à atuação da Vanessa Kirby que interpreta Martha, a protagonista do filme. E quanto a isso, não me decepcionei nem um pouco. Já tem algum tempo, desde a primeira temporada de The Crown, em que ela interpreta a versão jovem da princesa Margareth, que já sabe que Kirby é uma atriz muito completa e elegante. Não há dúvida que em Pieces of a Woman ela realmente entregou um trabalho excepcional e digno do Oscar.

Na história a personagem dela, a Martha é casada com o Sean, interpretado pelo Shia LaBeouf, e os dois perdem a filha, o bebê deles, depois de um parto domiciliar mal-sucedido. Depois disso, vemos o desenrolar de um enredo bastante pessoal de luto e rompimento de relacionamentos.

Pieces of Woman sem dúvida é uma escola no que diz respeito à cinematografia e Mundruczó mostra domínio total de sua obra. O roteiro sabe navegar muito bem pela história da Martha lidando com a perda que sofreu, com a mãe dominadora que ela tem e com marido que claramente, não tem nada a ver com ela. Percebmoes tudo isso, por exemplo, através do cenário e do figurino, que conseguem refletir externamente a personalidade de cada personagem de forma simplesmente brilhante! O Sean, por exemplo, é um homem mais bronco e, por isso, está muito ligado à construção civil pesada, tanto que, durante o espaço de tempo que se passa o filme, ele lidera diretamente a construção de uma ponte e, além disso, as roupas que usa são muito simples, contrastando diretamente com a Martha e com o local de trabalho dela num escritório de alto nível; a Elizabeth, mãe da Martha, interpretada pela Ellen Burstyn, é dominadora e bem matriarca mesmo. Sua aparência é imaculada, o cabelo é perfeito, e a casa dela, impecável e milimetricamente bem planejada. E a própria Martha é perfeitamente representada dentro de seu arco e à medida que os acontecimentos vão se desenrolando; a bagunça de sua casa reflete a bagunça interna da personagem depois do baque que ela sofreu.

Pieces of a Woman também tem uma pegada bastante naturalista, mostrando, como já dito, parto domiciliar, nudez explícita e até a comida sempre remete a vegetais ou frutas. A maçã, por exemplo, tem uma destaque muito grande, o que me leva a destacar o simbolismo que o filme também mostra. A maçã remete muito ao pecado original e à Eva, que é a mãe de toda a sociedade humana, o que exacerba ainda mais a questão da maternidade, que é o epicentro da história do filme. As mãos também são outro destaque da cinematografia e o diretor dá muita ênfase a elas, já que podem ser interpretadas como um elemento de ligação entre as pessoas e especialmente entre mães e filhos – pensarmos que uma mãe nunca larga a mão de um filho, ou pelo menos tenta não largar. A ponte que Sean está construindo também representa essa ligação de relações que, se quebrada, não funciona e não tem utilidade.

Sendo assim, por tudo isso, nos quesitos técnicos, o filme pode levar quantos Oscars quiser.

Por outro lado, Pieces of a Woman é muito arrastado e demorado, cheio de planos sequência enormes que cansam muito o espectador já que não tem nenhuma ação, o que faz o filme perder força como entretenimento. Só pra vocês terem noção, a cena do parto, sozinha, apesar de muito bem-feita e brilhantemente conduzida pela Vanessa Kirby, possui meia hora, ou seja, é um quarto do filme que tem duas horas de duração. Totalmente desnecessário…

Fica claro, portanto, que Kornél Mundruczó se revelou numa direção impecável tecnicamente falando, mas deixou a desejar quando se tratou de engajamento. Como as duas facetas não se encaixaram, sua obra não se mostrou tão completa como poderia ter sido, possuindo somente pedaços de um quadro que, de outro modo, poderia ter sido sim, perfeito.

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8 respostas

  1. A sei lá.
    Se eu dar minha opinião , serei criticada
    Filme sem pé nem cabeça .
    Mulher já era seca desdo do chá de BB
    Criança, morre ela fica mas seca ainda .
    O marido tentando fica sóbrio .
    Aí transa com uma advogada sem sal ( depósito de sabemos o que , pois só serviu para isto )
    Filme sem nexo algum .
    AFINAL E filme para pessoas inteligente

    The alienista são personagens frios
    Mas tem muita inteligência na trama ..

    Mas milhões gostou isto é o que importa

    1. Toda opinião é válida, obrigada por compartilhar a sua! O filme, como disse, realmente não é muito bom como entretenimento! Haha

  2. Achei a cena do parto a melhor coisa do filme. Consegue passar uma ideia de esforço prolongado, como se ela tivesse ficado horas e horas em trabalho de parto – como é na realidade – apesar de acontecer numa sequencia ininterrupta. Até agora estou pensando como foi que o diretos conseguiu esse prodígio.

    1. Foram necessários dois dias inteiros e seis tomadas pra fazer a cena! A Vanessa Kirby fez um workshop pesado assistindo documentários e vídeos e até assistindo vários partos reais pra dar conta de fazer a interpretação incrível dela.

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Nota do(a) autor(a)

/5
pieces of a woman poster maior
Título original:
Ano:
País:
Canada, Hungria, EUA
Idioma:
Inglês
Duração:
126 min min
Gênero:
Drama
Diretor(a):
Atores:
Vanessa Kirby, Shia LaBeouf, Ellen Burstyn

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