Crítica | ‘O Caso Collini’ é divertido, porém fraco

Histórias envolvendo o contexto de Segunda Guerra são muito exploradas pela arte desde a época do acontecimento e o cinema não fica de fora dessa exploração – um contexto sangrento que matou milhões de pessoas e, no caso da Alemanha, um monte de Judeus e pessoas consideradas impuras. O Caso Collini explora a área jurídica do pós guerra retratando um caso real que aconteceu em 2001.

Baseado em fatos reais, Capar Leinen (Elyas M’Barek) é um advogado iniciante que foi escolhido para representar como defensor público um assassino acusado de matar o grande empresário Hans Meyer (Manfred Zapatka). Entretanto, para sua infelicidade, seu rival é um grande advogado que quase não perde causas. Com isso, Casper tem uma missão de procurar provas para defender seu cliente e inocenta-lo.

Assim, em primeiro lugar, é válido reconhecer a atmosfera e ambientação criada em torno da época. Mesmo com um micro orçamento de 6 milhões de dólares, o longa trabalha muito bem a mise en scène , construindo um tom mais aterrorizante quando representa a época nazista na Alemanha e, com sutileza e minimalismo, quando acompanhamos o personagem principal.

o caso collini moça

Porém, a direção de Marco Kreuzpaintner se mostra bem problemática na construção de cenas. Em quase todas elas há cortes sem timing que quebram o ritmo narrativo, não dando tempo de construir uma relação entre o que está acontecendo e o espectador. Esse é um dos maiores defeitos do filme, o que acaba afastando o público dele.

Por outro lado, a maioria das atuações são boas ou funcionais e cumprem com o papel dado pelo roteiro. No papel de Caspar Leinen, Elyas M’Barek entrega bem tudo que o personagem precisa e suas expressões faciais são coniventes com as cenas. Há vários momentos em que o personagem está em dúvida ou confuso e ele mostra isso bem. Já Johanna Meyer, interpretada por Alexandra Maria Lara, é desconexa e fica perdida na trama – mesmo havendo um propósito para ela estar presente na história, a personagem fica perdida e há muitos momentos em que suas ações não condizem com a história. Quanto aos outros personagens, eles não são tão chamativos quanto esses dois, sendo apenas funcionais. 

Ademais, outros elementos técnicos como a direção de arte são bem padrão e não apresentam nada muito grandioso, a não ser o design de produção que, mesmo com poucos recursos, recria os anos 40 com precisão, sem deixar de introduzir o público na época do contexto.

o caso collini réu

Dessa forma, como é um filme baseado em fatos reais, o roteiro deve trabalhar em cima desse acontecimento. Essa interpretação da realidade é bem clara e funciona muito bem. O roteiro opta por construir melhor o “vilão” junto com seu advogado (Caspar Leinen), mas ao invés de usar diálogos para tanto, o roteirista opta por desenvolver os dois ao mesmo tempo durante as cenas. É por isso que os cortes do diretor deveriam ter sido construídos bem, pois era  o desenvolvimento dos personagens que estava em jogo. Enquanto conhecemos mais do advogado ao longo da investigação do caso, também conhecemos em segundo plano a história de vida do Fabrizio Collini (Franco Nero), réu do assassinato.

Ademais, outro grande problema que aparece durante a construção da narrativa, são os diálogos. Desde o princípio eles não são bons, mas sempre muito picados e às vezes expositivos. Isso se torna um problema, pois a construção de personagem para o público fica vazia e não há tempo de ter uma relação de apego com eles.

Já um dos pontos mais fortes do filme é o desfecho, que apresenta um plot twist inesperado, (pelo menos para quem não conhece a história). Fora isso, as partes do julgamento são funcionais e caminham bem ao lado da trama.

Porém, por não conhecer a fundo a história apresentada, não posso opinar sobre a fidelidade com relação aos fatos, então me apeguei apenas ao filme, sem levar em consideração os acontecimentos externos.

Dito isso, posso dizer que O Caso Collini é um bom filme de investigação, porém há muitos outros que apresentam o mesmo tema de uma forma mais completa e melhor.

Contudo, o filme consegue sim entreter e talvez (difícil de acontecer), emocionar o público.

Assim sendo, fecho dizendo que o filme é puro entretenimento para ver com amigos e família.

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4 respostas

  1. Na opinião meramente leiga de um simples apreciador de cinema, concordo com a crítica em número, gênero e grau….Depois verifiquei a história real que inspirou o filme e tive a certeza que o material era suficiente para inspirar uma filme melhor do que esse… Não achei um filme ruim, é assistível, mas não o recomendo como opção aos meus amigos .

  2. O filme é uma denúncia! O comentarista esqueceu de analisar o filme pelo seu aspecto mais importante: denunciar que os crimes nazistas ficaram impunes na Alemanha.

    1. Concordo com você, Fátima. De fato, o ponto principal está relacionado ao crime de guerra e isso fica explícito durante o filme. Porém, as escolhas da produção, principalmente a do diretor, são fracas e não conduzem a narrativa da maneira ideal. Obrigado pelo comentário e qualquer coisa fique à vontade para comentar em nossos textos.

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Nota do(a) autor(a)

/5
o caso collini poster
Título original:
Ano:
País:
Alemanha
Idioma:
Alemão
Duração:
123 min min
Gênero:
Crime, Drama, Suspense
Diretor(a):
Atores:
Elyas M’Barek, Alexandra Maria Lara, Heiner Lauterbach

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