O Melhor Amigo é um filme brasileiro de 2025, dirigido por Allan Deberton, que acompanha as aventuras de Lucas (Vinícius Teixeira), um jovem arquiteto que vai passar férias nas belíssimas areias de Canoa Quebrada para tentar se encontrar no amor. O filme estreou no dia 13 de março e está disponível nos cinemas de todo o Brasil.
Não é estranho pensar no amor como um sentimento universal. Entretanto, essa universalidade baseia-se em nossas concepções do que seria essa experiência ou nas representações que temos do sentimento, que, não surpreendentemente, são limitadas. Os limites são, porém, muitas vezes, reforçados pela representação clássica do amor nas artes. Ou seja, quando pensamos no sentimento, tendemos a imaginar tipos específicos de pessoas o vivenciando.
O Clube das Mulheres de Negócios é uma sátira social que questiona as dinâmicas de poder e desigualdade no Brasil, com um elenco de peso e uma crítica ácida às elites.
Começo assim a crítica de O Melhor Amigo porque a sua história não apresenta grandes novidades. Quantas vezes vimos tramas em que um personagem, descontente com sua vida, parte em uma jornada para compreender a si mesmo e o amor? A grande diferença aqui é que trata-se de uma história LGBTQIAP+ centrada. Isso poderia transformar o filme, porém, muito pelo contrário, as fórmulas conhecidas desse tipo de enredo, se encaixam perfeitamente, independentemente de ser sobre homens gays.
Ainda assim, dentro das possibilidades do seu enredo, o filme me surpreende, mesmo não sendo eu um homem gay. Não porque homossexuais não amem de forma clichê, mas porque, ao ver a representação desse amor, percebi de fato a universalidade desse sentimento. As obras que transmitem, para além de si mesmas, o significado de um sentimento são aquelas que valem a pena ser assistidas.
Com o amor como tema central, Deberton, em O Melhor Amigo, opta por retratá-lo da forma mais leve possível. Isso não significa que o filme não tenha momentos tristes, mas as escolhas feitas tornam esses momentos extremamente bem tratados, com a sutileza que merecem. O filme é uma comédia romântica musical, bastante influenciada por clássicos do gênero, como Mamma Mia.
Outro diferencial é a escolha de músicas tipicamente brasileiras, apresentadas em performances seguras e bem executadas. Quando assisti Emília Perez, o fato de o filme, em alguns momentos, não se levar a sério foi determinante para que eu conseguisse aproveitá-lo. O Melhor Amigo executa isso melhor do que o filme francês.. Talvez por percebermos que a obra de Deberton fez muito com um orçamento limitado.
O filme constrói muito bem a leveza e a sensualidade como elementos.. Destaco a relação entre Lucas e seu ex-namorado Felipe (Gabriel Fuentes). Nesse tipo de filme, a diferença de personalidades é essencial para movimentar a trama. Lucas é romântico e sonhador, enquanto Felipe é um galã pegador. um é tímido, outro é falastrão. Lucas é amor, Felipe é tesão. Parece muito simples, mas pode ser um desafio fazer funcionar essa dinâmica. O elenco resolveu bem esse desafio, graças às boas atuações.
É importante ressaltar que o personagem de Vinícius Teixeira não é ingênuo. Apesar de idealizar o amor, ele também decepciona aqueles que buscam por ele, como seu ex-namorado. Essa dinâmica coloca Lucas em uma posição onde ele precisa lidar com seus próprios erros e acertos na busca imperfeita pela realização de seus desejos. O que mais chama a atenção é que o trio de roteiristas (Andre Araujo, Otavio Chamorro, Raul Damasceno) não se preocupam em justificar as contradições de seu protagonista. No final, Lucas, sentindo amor, sou eu, ou talvez até você, que está lendo, com todos nossos defeitos e imperfeições.
Como uma grata surpresa, o filme consegue entregar um final muito bem amarrado e agridoce, digno de Se Meu Apartamento Falasse. Depois de uma jornada cheia de emoções (com direito a show da Gretchen), é difícil não sair com o emocional mexido. As suas referências do universo gay, podem afastar. Entretanto, não é preciso abrir mão de preconceitos para aproveitar O Melhor Amigo; só é preciso sentir amor. Não precisa ser o amor romântico. O amor pelo cinema é suficiente. Pode ter certeza de que o filme o corresponderá.
