Crítica de filme

Crítica | Querido Evan Hansen

Publicado 3 anos atrás

Adaptar qualquer tipo de obra de um meio para outro nunca é tarefa simples. Seja dos quadrinhos para o cinema, ou de livro para TV, é necessário tomar uma série de decisões acerca do que precisa ser mantido nessa transposição e o que precisa ser modificado para se adequar ao novo meio. A versão cinematográfica de Querido Evan Hansen, musical premiado da Broadway, ao que parece, toma várias decisões equivocadas em sua adaptação para a tela grande. Um “show” de erros praticamente do começo ao fim.

O longa parte de uma premissa deveras problemática. Evan Hansen (Ben Platt) é um adolescente sem amigos, sofrendo de ansiedade e depressão, que por capricho do destino acaba se envolvendo com a família de Connor Murphy (Colton Ryan), um colega que se suicidou recentemente. Uma de suas cartas escritas por ele para ele mesmo como exercício proposto por seu terapeuta é confundida pela família como o bilhete de suicídio do tal colega. Acreditando ser uma forma de aliviar o luto, a família de Connor resolve se aproximar de Evan para saber mais sobre essa inesperada amizade. Evan, por sua vez, acaba usando da situação para se aproximar da irmã de Connor, Zoe (Kaitlyn Dever), por quem sempre teve uma queda.

Por mais que a suspenção de descrença inicial nos faça embarcar na situação que Evan se encontra (vários filmes e séries partem de premissas esdrúxulas como essa e tudo bem), afinal, em um primeiro momento o que você diria para essa família que acabou de perder o filho de forma trágica, as atitudes de Evan para manter a farsa beiram a psicopatia. Sem conseguir, ou querer, resolver logo a situação, Evan decide forjar várias conversas de e-mail com o falecido, para mostrar a família que a amizade entre eles era real. O filme oscila entre justificar as ações de seu personagem ora como altruístas, ora como fruto da sua incapacidade social. Mas o que fica claro é o quão bem ele se sente ao fazer parte dessa família, uma vez que ele mesmo não possui uma. Nas mãos de um outro diretor essa história poderia até ser contada como um filme de terror sobre um psicopata que manipula e aterroriza uma família em luto.

Se a história já não inspira confiança, a escalação de Ben Platt para o papel principal é mais um erro para a película. Intérprete original do personagem na Broadway, Platt realmente parece pertencer aos palcos, dada a sua atuação forçada e cheia de caretas. Muito se falou sobre a diferença de idade entre o ator e seu personagem; Platt é dez anos mais velho que Evan Hansen. No entanto, o que não falta no audiovisual são adultos representando adolescentes (vide Malhação, Smallville, Riverdale e etc). A questão em Querido Evan Hansen é que a composição do personagem, a atuação caricata de Platt aliada ao figurino e maquiagem pesadíssimos, acabam pro envelhecer ainda mais o personagem. Evan Hansen transita pelo colégio tal qual Steve Buscemi na célebre imagem transformada em meme. How do you do, fellow kids?

É interessante reparar também em como o seu diretor parece não saber lidar com o material que tem em mãos. Stephen Chbosky, do excelente As Vantagens de Ser Invisível e do fofo Extraordinário, alterna entre a comédia e o drama com a sensibilidade de um trator. Essa inconstância acaba levando ao riso involuntário em certas cenas feitas originalmente para emocionar o espectador.

Um dos poucos pontos positivos do filme são algumas músicas (Sincerely, Me You Will Be Found) e o elenco de apoio, que conta com boas interpretações de Kaitlyn Dever e Julianne Moore. As duas atrizes tentam trazer um pouco de realismo perto dos exageros de Platt.

Tentando ainda trazer uma mensagem positiva sobre cuidados de saúde mental, Querido Evan Hansen acaba soando hipócrita em seu final feliz praticamente livre de consequências para seu protagonista. O filme tenta vender uma imagem inocente dele, mas Evan Hansen está mais para Freddy Kruger.

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Querido Evan Hansen Poster
País: EUA
Idioma: Inglês

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