Perceber o mundo como uma fotografia (não digital, intermediada por um computador) na qual se pode pegar, sacudir, manipular e, obviamente, ver. Experimentar o mundo sensível pela capacidade unilateral de observar mas, também, interagir com as mãos.
Assim que a diretora Raven Jackson propõe seu delicado Todas as Estradas de Terra têm Gosto de Sal. É notável o quão focado nos sentidos o filme é desde o seu nome com a alusão ao paladar. Essa aposta em ideais quase que puramente sensoriais garante ao filme uma atmosfera etérea bem particular ao denotar a jornada de uma jovem negra por sua vida.
Quando duas jovens missionárias batem à porta do Sr. Reed, um simples debate sobre fé se transforma em um perturbador jogo psicológico.
Mack, do Mississipi, não é retratada como geralmente se vê corpos negros no cinema. Se comumente existe uma brutalidade no sofrimento, principalmente da mulher, aqui o filme vai lidar com perdas, por exemplo, de uma forma madura e não-exploratória. É um momento da vida, um bem triste, sim, mas não há violência no retrato. Não há pessimismo ao se deparar com obstáculos da vida, mas reflexão.
Talvez, aí, resida um dos problemas de Todas as Estradas de Terra têm Gosto de Sal: uma certa falta de ímpeto. Com o foco na sensorialidade, na simbologia das mãos, no âmbito reflexivo ao se deparar com dificuldades, há uma redução na dimensão dramatúrgica, e a não-linearidade com certeza não ajuda na falta de arrojo da obra.
Pictórico e simbólico, mas por vezes em falta de elementos mais diretamente cinematográficos, Jackson se coloca no radar de cineastas que conseguem trazer um frescor e novas lentes para o cinema contemporâneo, que, honestamente, está precisando.