Quando penso em Herdeiros, mais um dos doramas que invadiram a Netflix (e eu não estou reclamando, pelo contrário!), só consigo classificá-lo como o Gossip Girl oriental, porém menos rico em complexidade do que o sucesso americano – principalmente no que se refere às tramas secundárias – e claro, bem mais clichê e dramático.
Para começar, a história de vinte episódios é totalmente focada no romance do ex-bad boy milionário Kim Tan (Lee Min-Ho) com a pobre e virtuosa Cha Eun Sang (Park Shin-Hye), mas consegue equilibrar bem esse aspecto com uma boa puxada na abordagem da relação entre pais e filhos – mesmo que não de forma muito profunda.
O roteiro se caracteriza, portanto, por uma notável simplicidade e superficialidade, sem nada de grandioso, ainda que se passe no mundo da mais alta classe sul-coreana. Vilões são vilões e mocinhos são mocinhos, no mais puro sentido dessas palavras – o que se pode notar pela expressão permanentemente entojada de Rachel Yoo (Kim Ji-won), contrastada pelo olhar triste, exacerbado, mas determinado de Eun Sang.
Mas como, então, a série se sustenta por longos vinte episódios? Está aí o grande diferencial do showrunner que, sem muita pretensão e mesmo que de forma rasa, consegue adentrar na profundidade da paixão adolescente. Se puder fazer uma analogia com o Brasil, a sensação é a de uma quase volta ao romantismo do século XVIII que muito da geração mais nova não conhece.
Acredito até que esse seja o motivo, quem sabe, do sucesso que esses novos doramas estão fazendo.
Não há nenhum contexto maior por trás da trama, nada de politicagem, nada de guerra com o país vizinho. O enfoque está nos personagens e sua vida rotineira em que os maiores problemas são aqueles relacionados à família e ao coração – com um certo estresse relativo ao trabalho também. É delicado e forte ao mesmo tempo.
Mas para não dizer que os quesitos técnicos ficam a desejar, não há dúvida do grande destaque ao figurino e, mesmo que não seja nenhuma especialista em k-pop, é impossível não notar a trilha sonora, que exacerba as emoções tão à flor da pele que é inerente aos dezoito anos de idade.
Se há mais razões para assistir a Herdeiros eu não sei, mas para mim, essas foram suficientes.
