‘La Casa de Papel’ ainda continua eletrizante | Crítica

!Alerta de Spoiler!

Finalmente saiu a 4ª temporada de La Casa de Papel e nós, os fãs da quadrilha mais carismática do mundo, já podemos continuar assistindo ao assalto ao Banco da Espanha.

Como é fato sabido, aqui no Brasil nós estamos assistindo o seriado a prestações, já que a primeira temporada (que é o assalto à Casa da Moeda) e a segunda (que é o assalto ao Banco da Espanha) foram ambas divididas em duas partes, virando, portanto, quatro – o que foi uma técnica estratégica de marketing usada pra estender o sucesso inacreditável dessa série.

Porém, muitas vezes – na grande maioria das vezes, aliás – esticar uma história além daquilo que conquistou o público não dá certo – a fórmula fica desgastada, o roteiro se perde e o público fica chateado. Às vezes, o segredo da excelência está justamente em saber a hora de parar, como é o caso de Breaking Bad e Fleabag, por exemplo, que foram impecáveis, e os produtores firmes em não atender ao apelo do público, que queria mais!

Assim, La Casa de Papel foi projetada, inicialmente, pra ser somente uma temporada, somente o assalto à Casa da Moeda, mas o sucesso estrondoso fez com que os produtores planejassem mais um crime pra quadrilha do Professor cometer. Porém, o criador Alex Piña, pelo menos por enquanto, ainda não se perdeu e está conseguindo manter o nível elevadíssimo de sempre.

la casa de papel toquio e denver (1)

A quarta temporada, inclusive, está melhor ainda do que anterior, mais tensa e claustrofóbica e com vilões à altura dos nossos heróis.

Heróis! É tão surreal chamar os bandidos de uma quadrilha de heróis e a polícia de vilã… O que essa série faz com a gente!Mas não adianta, em La Casa de Papel, torceremos sempre pelo Professor e os seus pupilos com nome de cidade e ponto, não tem jeito.

Voltando então, entendo que os vilões foram o ponto alto dessa temporada. Do lado de fora, o Professor (Álvaro Morte), que é a parte intelectual da coisa toda, ganhou uma antagonista à altura: a implacável inspetora Alicia Sierra, que, apesar de ter aparecido na temporada anterior, ganhou ainda mais destaque nessa. Aliás, que interpretação brilhante da Najwa Nimri! É sempre um prazer vê-la atuar, principalmente quando repete o talento que exibiu em Vis a Vis.

la casa de papel alicia

É interessante notar que tanto o Professor como a inspetora estão sofrendo – ela porque perdeu o marido para o câncer há pouco tempo e ele porque achava que tinha perdido a Raquel (Itziar Ituño). Mas depois que descobre que sua amada Lisboa está viva, o cabo de guerra entre o Professor e a Alicia começa a ficar ainda melhor. O senso de humor que eles têm, coloca diversão no meio da tensão sem ficar ridículo, é algo muito incrível!

Por outro lado, dentro do Banco, onde a parte braçal do assalto está acontecendo, é o segurança Gandía (José Manuel Poga) que, sozinho, vai dar muito trabalho à quadrilha. A tensão é quase tangível porque eles estão tentando salvar Nairóbi (Alba Flores) do tiro que ela levou depois do plano arquitetado pela inspetora Sierra pra ela aparecer na janela.

E é aí que começa uma forçaçãozinha de barra, quando Tóquio (Úrsula Corberó), Rio (Miguel Herrán), o Helsinki (Darko Peric) e Estocolmo (Esther Acebo) vão bancar os médicos numa cirurgia super complexa que envolveu deslocamento de vértebra e uma pneumectomia parcial (corte de uma parte do pulmão) via videoconferência (é inacreditável!).

Enquanto isso, os assaltantes ainda têm que continuar com o derretimento do ouro no cofre e ainda lidar com os reféns.

la casa de papel toquio

E por falar em reféns, Arturo (Enrique Arce), que é o personagem mais insuportável da série, tocou o terror entre eles. O homem é mais bandido que toda a quadrilha do Professor junta – conseguiu levar drogas para o Banco e ainda, estuprar uma das mulheres lá dentro! Ele tem salvação, uma vez que nem a surra que Denver (Jaime Lorente) deu nele o fez aprender alguma coisa. Arturo é muito nojento e, por isso, – considero o ator muito bom, já que não tem condição.

Mas vamos mudar de assunto.

O dinamismo dessa temporada é inegável, a ação está presente o tempo todo na guerra entre polícia e quadrilha… e também na guerra pessoal entre Sierra de um lado e Raquel e Professor do outro, além, é claro, entre Gandía e Nairóbi.

Eu não sei vocês, mas senti uma coisa mais profunda do que o simples dever de policial da Sierra no caso do assalto. Tenho pra mim que ela percebeu – porque é bem da espertinha – que existe uma relação forte de amizade entre os membros da equipe do Professor, uma coisa de família mesmo, e que ela sente até uma certa inveja disso, principalmente do relacionamento entre a Raquel e o Professor. Tanto é, que é com isso que ela vai jogar o tempo todo na luta contra eles.

E o mais interessante da Sierra é sua autenticidade. Quando ela diz em uma das cenas na tenda da polícia que, depois da morte do marido, virou uma canalha, não mentiu, virou mesmo e ela admite! Logo ela, que supostamente, deveria ser cheia de ética, uma vez que está do lado dos mocinhos – a polícia, que deveria proteger a sociedade.

A propósito, a presente temporada faz uma crítica gritante ao sistema, em especial quando Sierra denuncia o governo na coletiva de imprensa no episódio final, dizendo que foi o governo que ordenou a tortura do Rio. Essa cena é genial, mais um ponto pra Najwa Nimri no quesito atuação, porque, ao mesmo tempo que ela surpreende e choca com a revelação do esquema todo, ela faz rir com o seu discurso, com frases do tipo: “é óbvio que o governo sabia de tudo, foi de lá que vieram as ordens! Eu não acordei um dia com vontade de torturar o garoto!” Sensacional.

Essa cena também é um exemplo de que, na verdade, nada nem nenhuma instituição é perfeita e que a corrupção assola todas elas.

Já quanto ao Gandía, ele tem um ódio especial por Nairóbi – é com ela que o homem cismou mais e é dela que ele quer se vingar mais. José Manuel Poga está muito bem no papel e é outro machista da história (um pouco diferente do Arturo, mas também machista).

la casa de papel gandia e palermo

E durante tudo isso, vemos os outros detalhes da trama se desenrolarem, como a relação de Denver e Estocolmo que complicou de vez. Estocolmo terminou com o Denver depois de ele espancar o Arturo e acabou se aproximando do Rio, o que deixa não só Denver com ciúmes como também deixa Tóquio com ciúmes, já que ela claramente ainda é apaixonada pelo Rio.

Também tem o romance inusitado e muito fofinho que surge entre Nairóbi e Bogotá; a revelação de mais um membro da quadrilha, a trans Julia, que estava infiltrada entre os reféns; e também o desenvolvimento da história que houve entre Berlim e Palermo nos eventos que antecederam ambos os assaltos; tudo isso muito bem encaixado na narrativa não linear da série.

Não obstante, é claro que é possível encontrar uma ou outra inconsistência em La Casa de Papel, principalmente agora, o que é compreensível já que a série não foi concebida para ter várias temporadas. Porém, quanto aos aspectos técnicos, o seriado continua impecável. A fotografia é perfeita – tanto a parte externa nos atos do Professor, quanto as internas do Banco da Espanha e da tenda da Polícia -, temos tons mais frios, muito azul, verde e, destoando deles, tem o vermelho do macacão dos assaltantes – e aquele plástico na tenda da Polícia isolando a Raquel – tudo isso combina demais com a sobriedade de um Banco e também com a tensão claustrofóbica que caracteriza a série e principalmente essa temporada.

Das atuações já falei bastante, estão perfeitas também, nada a reclamar, fora o cuidado com os detalhes, que é louvável. Eu posso citar como exemplo a cena em que Gandía abre um buraco na porta do banheiro e coloca a cabeça da Nairóbi nele, em seguida prendendo seus braços por dentro, como se ela estivesse crucificada.

E finalmente, o último episódio foi o limite da tensão na execução do Plano Paris, perfeitamente performado pela nova equipe externa de mineradores recrutada pelo Professor, que resgatou Raquel das mãos da polícia corrupta e culminando com o encontro nervoso do Professor com a inspetora Sierra.

Por tudo isso é que eu digo que, na minha concepção, La Casa de Papel ainda não se perdeu, apesar de que eu confesso que to com medo, porque temos mais duas temporadas vindo por aí e é aquela coisa que eu me referi lá no começo… esticar demais a corda pode acabar arrebentando ela pro lado ruim, e estragando uma trama tão boa.
Mas o gancho pra próximo temporada está feito, a história ainda não terminou e eu vou ficando por aqui. Obrigada por terem acompanhado o vídeo e se você gostou, não esquece de clicar no joinha e de se inscrever no canal, que é novinho em folha! Dá essa força pra gente aí, galera e fica aí uma piadinha pra fechar: bum bum ciao!

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Nota do(a) autor(a)

/5
la casa de papel poster 4 temporada
Título original:
Ano:
País:
Espanha
Idioma:
Espanhol
Duração:
70 min min
Gênero:
Ação, Crime, Mistério
Criador(a):
Atores:
Úrsula Corberó, Álvaro Morte, Itziar Ituño

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