Crítica | ‘La Templanza’ não é nenhuma obra-prima

Produzir mais de uma obra-prima na vida é coisa quase impossível. Eu não sabia o que esperar de La Templanza, a nova minissérie da Amazon, quando descobri que a produção era baseada no romance homônimo de María Dueñas, a mesma autora do incrível O Tempo Entre Costuras (2013), cuja adaptação televisiva pertence à Netflix e pela qual me apaixonei. Mesmo assim, resolvi dar uma oportunidade à obra, uma vez que desde La Casa de Papel (2017), também da Netflix, mantenho um olho atento nas produções espanholas.

Ambientada em várias cidades históricas ao redor do mundo no ano de 1860, a história tem foco em Mauro Larrea (Rafael Novoa) e Soledad Montalvo (Leonor Watling), dois personagens extremamente interessantes que em determinando momento e já cheios de bagagem de vida, veem seus destinos se cruzarem para nunca mais se separarem. Magnata mexicano falido, Mauro se vê envolvido em negócios escusos e aventuras inusitadas no Caribe e na Espanha, enquanto, em Londres, Soledad tem que enfrentar o enteado mau caráter depois que seu marido, o comerciante inglês Edward Claydon (Nathaniel Parker), é diagnosticado com demência.

Sendo assim, se há uma coisa fácil de identificar quando se trata da obra de María Dueñas, é que ela trabalha com mulheres fortes e encantadoras. Soledad e Sira, de O Tempo de Costuras, portanto, têm muito em comum nesse quesito, mas La Templanza, apesar de não ser ruim, não chega nem aos pés da série da Netflix, que é muito mais dinâmica e cativante.

Dessa forma, a obra da Amazon não começa tão bem, seu início é capenga e a minissérie luta para se firmar e, quando consegue, seu passo nunca é forte como o do outro seriado, pelo menos não da forma como ela nos é apresentada. Novoa e Watling, os dois atores principais, trazem uma atuação muito elegante e a produção possui um enredo dramático de perda, encontros e desencontros e mentiras que, apesar de previsível, agrada. Mas falta o algo a mais da obra-prima, aquele diferencial que escritores, diretores e artistas só alcançam uma vez na vida.

Por outro lado, quanto aos quesitos técnicos, chamam a atenção as locações, todas muito bem produzidas – destaque para o vinhedo que dá mote à trama principal e que é simplesmente maravilhoso. Os figurinos são muito bem feitos, refletindo não só a época a que pertencem, mas também a cultura de cada país. De outra feita, porém, a luz muito estourada que foi utilizada traz certo desconforto aos olhos do espectador e não creio que isso possa ser justificado por nenhuma técnica de filmagem ou tentativa de imersão.

Por tudo isso, apesar de ter seus momentos, como a cena da degustação de vinhos – que considero a melhor da série -, La Templanza está longe de ser a melhor coisa das produções espanholas e o final extremamente dramático envolvendo um incêndio foi extremamente desnecessário. Assistir à série, portanto, não é nenhuma perda de tempo, mas é seguro dizer que a obra-prima de Dueñas não está nos belos vinhedos de Jerez do século XIX, mas sim no ateliê de Sira, nos tempos entre costuras.

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2 respostas

  1. Apesar de não ser ” Obra Prima “, o seriado tem seus méritos. Figurino, adaptaçao do livro de forma inteligente. Para mim , mereçe melhor avaliação .
    Três 🌟 estrelas é o justo .

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Nota do(a) autor(a)

/5
La Templanza Poster
Título original:
Ano:
2021
País:
Espanha
Idioma:
Espanhol; Castelhano
Duração:
50 min min
Gênero:
Criador(a):
Atores:
Leonor Watling, Rafael Novoa, Juana Acosta

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