Crítica | Em ‘Succession’, os Roy são a expressão da decadência da alta sociedade

A HBO já demonstrou há muito que sabe fazer seu trabalho muito bem, obrigado, e no último dia 20, abocanhou mais um Emmy para sua já extensa coleção, na categoria Melhor Série de Drama. Ambientada no mundo hiper exclusivo dos bilionários, é fácil entender porque Succession ganhou tanta notoriedade do público e da crítica em suas duas temporadas já lançadas.

A série do criador Jesse Armstrong traz uma temática já conhecida do público, mas o faz de uma forma que, sem medo de exagerar, classifico como genial. O mundo dos bilionários nos é apresentado em todas as suas facetas de beleza e opulência, mas também (e principalmente) em seu lado peculiar e impressionante do mais alto nível de sordidez. É a plena expressão da decadência da alta sociedade.

Em razão disso, desde o primeiro momento em que a trama e os personagens nos são apresentados, já é possível se fazer o questionamento sobre se vale a pena fazer parte de uma família como a dos Roy, mesmo com sua obscena conta bancária. Soou um pouco clichê? Talvez, mas esse é o último adjetivo com que se pode rotular Sucession.

sucession reunião

Sendo assim, vejamos. Há mais de cinquenta anos, Logan, vivido pelo brilhante Brian Cox, fundou a Waystar, companhia que lhe rendeu sua fortuna e o colocou no topo da lista do homens mais ricos do mundo. Porém, não se pode dizer que o sucesso na vida profissional foi o mesmo da vida particular. Seu primeiro casamento falhou, deixando-o com um saldo de quatro filhos, cada um mais mimado e insuportavelmente ridículo que o outro. Todos (inclusive o pai) têm o rei na barriga. Não é a toa que se chamam Roy (que significa exatamente isso: rei). Nenhum (nenhum mesmo) se salva.

succession brian cox
Brian Cox em Succession

Mas, se por um lado somos obrigados a assistir esse bando de pessoas insuportáveis, por outro, simplesmente não conseguimos desgrudar os olhos da tela. E a explicação não pode ser outra que não a atuação sublime dos atores que interpretam os membros dessa família. Já mencionei Brian Cox, mas Jeremy Strong, o Kendall, e Sarah Snook, a Shiv, estão excepcionais em seus papeis de filhinho e filhinha de papai que acham que são o centro do universo.

succession jeremy e sarah
Jeremy Strong e Sarah Snook em Succession

Kieran Culkin, do alto de sua pouca envergadura, também é um gigante da atuação, e assusta o tanto que é fisicamente igual a seu irmão da vida real, Macauley Culkin. O pior de todos os filhos de Logan, porém, é Connor (Alan Ruck) que, além de possuir todas as características negativas dos irmãos, é completamente abobalhado – mérito do bom trabalho de Ruck.

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Kieran Culkin em Succession

Além disso, não há como não se encantar com os cenários de Succession e conhecer o crème de la crème do que o mundo tem a oferecer, o qual somente uma parcela ínfima da sociedade tem acesso. As casas, os jatos e os navios particulares, as frotas de carros e motos e o exército de empregados prontos para atender ao mínimo levantar de sobrancelhas dos patrões, fazem o queixo cair. E se formos considerar o clima que se forma quando os Roy estão reunidos, a mandíbula se desloca, de tão horrível e angustiante que é.

succession navio e helicóptero

Eis então a ambiguidade e o brilhantismo de Succession. Eles nos são mostrados de todas as maneiras possíveis. Exteriormente, a fotografia clara e bela nos revela as belezas do mundo. Já no nível interno, a câmera nervosa nos evidencia a podridão que pode existir por dentro de toda essas maravilhas, principalmente através dos movimentos bruscos de dolly in e dolly out (quando a câmera se aproxima e se afasta da pessoa ou objeto, respectivamente) que se repetem incansavelmente durante todos os episódios.

Nesse ínterim, é interessante observar um dos pôsteres da série (vocês podem conferi-lo no começo desse post) que, com imagem apenas nos conta todo o enredo da obra. Nele, os Roy estão reunidos em volta de uma mesa rachada, com Logan em pé, na cabeceira, à frente do quadro de William-Adolph Bouguerau que representa o Inferno de Dante – no qual duas pessoas lutam e uma está mordendo a jugular da outra. Seus filhos estão sentados e Shiv e Kendall, à frente, se olham de maneira desconfiada, enquanto Roman parece estar matutando, pensando em como transformar tudo em uma grande piada.

Finalmente, não há como não chamar a atenção para o excelente trabalho de Nicholas Britell com a trilha sonora da série (um dos pontos fortes da produção), perfeita em todos os sentidos. Succession é daqueles seriados que não se consegue pular a abertura, só para ficar escutando a música de abertura.

Por tudo isso é que a série da HBO se tornou o sucesso que ainda é e, espero, continue sendo. Estou esperando ansiosa ploo retorno dos Roy na próxima temporada. Ironicamente, é bom assistir à essa sujeirada tão bonita! Afinal de contas, quem será o sucessor?

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2 respostas

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Nota do(a) autor(a)

/5
succession poster
Título original:
Ano:
País:
EUA
Idioma:
Inglês
Duração:
60 min min
Gênero:
Drama
Criador(a):
Atores:
Brian Cox, Kieran Culkin, Sarah Snook

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