Crítica de filme

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Publicado 4 dias atrás
Nota do(a) autor(a): 4.5

De que falamos quando falamos de Amor? De que falamos quando falamos de Arte? Ao assistir Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), descobri que essas são questões mais presentes em minha rotina do que eu havia imaginado. O filme, que a mim serviu como um espelho torto que reflete minha própria busca por sentido, nos apresenta gasolina para alimentar o fogo de reflexões cada vez mais relevantes em um mundo cada vez mais efêmero.

Alejandro G. Iñárritu compõe aqui uma obra de camadas, em que o virtuosismo técnico (que tem sua melhor ilustração na câmera inquieta de Emmanuel Lubezki criando o maravilhosamente falso plano-sequência) serve não apenas para deslumbrar, mas para mergulhar o espectador no colapso emocional de Riggan Thomson (Michael Keaton). Em um filme com tal primor cinematográfico e atuações excelentes de todo o elenco, é notável como a forma não está desacompanhada de substância.

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Há quem diga que Birdman é uma crítica ao cinema de entretenimento, aos Vingadores da vida. Pode ser. Mas me parece que ele vai mais fundo: é uma crítica ao modo como nós medimos valor pelas vitrines. Pela resenha do jornal. Pelo número de views. Pela curtida da crítica que nunca escreveu uma peça. E é também uma sincera defesa do artista que se coloca em risco, que treme, que tropeça, que sangra um pouco toda vez que ousa criar.

O status de antigo ícone que tenta se reinventar é um pouco distante demais do público se tratado de forma literal, mas encontra universalidade na busca quase infantil por admiração. O protagonista não quer apenas ser notado; ele quer ser amado, lembrado, aplaudido com sinceridade. Quer ser mais que um trending topic, quer ser eterno… algo naturalmente humano.

Há uma beleza profunda no estudo das suas entrelinhas sobre reconhecimento. Riggan quer ser admirado por sua filha Sam (Emma Stone), por seus colegas, pelo público, por si mesmo. É um homem que parece flutuar entre o desejo de se elevar e o medo de ser irrelevante. É no medo que nasce a sugestão de que o amor verdadeiro está nos pequenos gestos: na escuta, no cuidado, na verdade. Mas também se vê o peso brutal de viver à sombra do que fomos — ou do terror daquilo que achamos que deveríamos ser.

Sinto sinceramente que Birdman traz pensamentos demais à mente para que possa ser digerido em apenas uma visita; é um filme que, como o melhor tipo de arte, exige um segundo encontro. Em um breve exemplo, apenas ao rever o filme notei a ironia e o sarcasmo por detrás de uma das peças de decoração do camarim de Thomson: um busto de Buda, um apelo à meditação e ao realismo visceral sempre destruído pela fantasia e pela voz incessante do alter ego do protagonista.

A conclusão a que cheguei em minha vida é a de que há liberdade na renúncia: renunciar à obsessão por controle, por perfeição, por aprovação. Há liberdade quando o voo é simbólico da vida, não do sucesso. Se o filme concorda comigo eu jamais poderei dizer, pois o final ambíguo parece abraçar a tal inesperada virtude da ignorância ao rir dos meus esforços em entender a intenção por detrás do artista. E será que realmente importa?

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Birdman

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)
16
País: Estados Unidos
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Roteiro: Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris
Elenco: Michael Keaton, Zach Galifianakis, Edward Norton
Idioma: Inglês

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