Recentemente, chegaram ao conhecimento do grande público notícias sobre o possível (e muito provável) começo da produção de pelo menos mais dois prequels de Game of Thrones pela HBO, além de House of The Dragon (HOTD), série que será centrada na Dança dos Dragões, a guerra civil dos Targaryen, e cujas gravações estão prestes a começar.
Porém, o anúncio, longe de fazer uma unanimidade de fãs felizes, causou bastante polêmica entre os throners e os especialistas do Mundo de Gelo e Fogo. Estranho? Nem um pouco. Mas para entender o motivo de tanto desgosto, é preciso voltar no tempo. Essa é uma história que vem de longa data.
Em 1991, George R. R. Martin começou a produzir sua obra de alta fantasia que se tornaria As Crônicas de Gelo e Fogo e, cinco anos mais tarde, em 1996, o primeiro volume da saga, intitulado Game of Thrones (ou A Guerra dos Tronos, em português), foi lançado.
Em 1998, depois da publicação do segundo volume, A Clash of Kings (A Fúria dos Reis), vários estúdios cinematográficos começaram a abordar Martin na esperança de conseguirem o direto de adaptação de seus livros para as telonas, mas Martin, ciente da grandiosidade de sua história, negou todos as ofertas argumentando que não achava que seus romances pudessem ser transportados adequadamente para o cinema.
Porém, em 2010, a HBO fez uma proposta nova ao autor: a rede produziria uma série de televisão, em que cada temporada seria inspirada por um livro diferente. A essa altura, as Crônicas já contavam com quatro volumes. Além de Game of Thrones e A Clash of Kings, A Storm of Swords (A Tormenta de Espadas) e A Feast for Crows (O Festim dos Corvos) também já haviam sido publicados.
Dessa vez, Martin aceitou e, assim, em 2011, juntamente com o lançamento de A Dance with Dragons (A Dança dos Dragões), o quinto livro da saga, foi ao ar, pela HBO, a série Game of Thrones que viria a se tornar, superando todas as expectativas, a maior série de todos os tempos, ganhadora de inúmeros prêmios.
A produção elevou a obra de Martin a um patamar inimaginável e o autor se tornou conhecido mundialmente. Porém, seja por que motivo for ou por vários deles, o fato é que depois de 2011, Martin não lançou mais nenhuma parte de suas Crônicas, que ainda estavam inacabadas, sendo que pelo menos mais dois livros eram esperados, conforme afirmado pelo próprio autor.
Cumprindo o acordado, ano a ano a HBO lançava uma temporada nova, enquanto os leitores da saga aguardavam os próximo livros, que nunca vieram. Assim, em 2015, o material original que os showrunners da série David Benioff e D. B. Weiss tinham, ou seja, as próprias Crônicas de Gelo e Fogo, acabou. George Martin já havia há muito se afastado da produção do seriado e os D & D tiveram que caminhar por conta própria para contar o final da saga, que não existia, em mais três temporadas que já estavam programadas. O resultado foi no mínimo muito insatisfatório, pelo menos na opinião da maioria esmagadora dos fãs de GOT e dos próprios atores, que imortalizaram personagens icônicos como Jon Snow, Daenerys Targaryen e Ned Stark. A partir de 2016, o processo de decadência de Game of Thrones, começou.
E qual não foi a insatisfação dos fãs quando, em 2018 Martin lançou o primeiro volume de outra saga, Fire and Blood (Fogo e Sangue), que, apesar de pertencer ao Universo de Gelo e Fogo, contando a história dos Targaryen desde A Conquista de Aegon, não era o tão aguardado The Winds of Winter (Ventos de Inverno), o sexto livro das Crônicas. Os throners se sentiram abandonados – já haviam se passado sete anos de silêncio quanto a continuação da história. A última temporada de Game of Thrones na HBO veio em 2019 ainda sem livro e com um final considerado desastroso, consolidando a decepção geral do público.
Porém, a despeito do final desastroso e muito antes dele, era óbvio que a HBO iria querer explorar muito mais o mundo criado por Martin. Um prequel de GOT escrito por Joe Goldman e protagonizada por Naomi Watts que vinha sendo chamado informalmente de The Long Night (A Longa Noite) e acompanharia os primeiros habitantes de Westeros, conhecidos como Filhos da Floresta, foi anunciado e cancelado em 2019, substituído por House of The Dragon.
E até aí, tudo bem. A da guerra civil dos Targaryen seria muito mais interessante de assistir do que a sombria abordagem dos Filhos da Floresta em The Long Night prometia ser e, pelo menos a parte da Dança dos Dragões, que teve lugar entre 129 e 131 depois da Conquista de Aegon e é o enfoque de HOTD, já está finalizada em Fogo e Sangue, com versão resumida no livro de contos Mulheres Perigosas.
Mas estamos em 2021, praticamente uma década sem mais nenhum livro das Crônicas publicado, e problema veio quando, há poucos dias, como dito no início deste artigo, veio ao conhecimento geral a intenção da HBO de dar início ao projeto de produção de mais duas séries baseadas no Universo de Gelo e Fogo, Tales of Dunk and Egg (Contos de Dunk e Egg, em tradução livre), que segue as aventuras de sor Duncan, O Alto (Dunk) e o jovem Aegon V Targaryen (Egg), 90 anos antes de As Crônicas de Gelo e Fogo, e outra centrada na Rebelião de Robert.
Ora! Assim como as Crônicas, Tales of Dunk and Egg não foi finalizado e também está inacabado, e os throners, indignados, começaram se manifestar. O Valiria Reddit, subreddit brasileiro dedicado às Crônicas de Gelo e Fogo, pipocou de posts com reações negativas aos projetos da HBO. A preocupação dos fãs reside principalmente em um único fato: de que é a HBO quem vai escrever o final dos livros , sendo que a autorização de Martin para a produção dos prequels soaria como um sinal de que o autor finalmente está se considerando velho demais para concluir as Crônicas e Dunk e Egg. Veja o post que explica essa visão:
O que me preocupa com essas novas prequels irem adiante from r/Valiria
E ainda existe um outro problema apontado em outro post do Valíria Reddit: em 2014, Martin fechou contrato em que vendeu para HBO os direitos cinematográficos e televisivos do mundo de Westeros, o que dá a rede o direito de fazer o que bem entender, inclusive criar novas histórias independente da autorização do autor.
O próprio George Martin admite a transação em um post publicado em seu blog, em 2014. Ele diz:
I am frequently asked whether or not there are any plans for Dunk & Egg movies or television shows. There has been interest, yes, but the rights situation is complicated. Film and television rights to the characters and the three published Dunk & Egg stories remain with me at present… but HBO, when acquiring the rights to the SONG OF ICE & FIRE novels, also acquired film and television rights to the world of Westeros. So if we did Dunk & Egg with anyone else, we would need to remove all the references to House Targaryen, the Iron Throne, etc… not completely impossible, but certainly undesireable. Whereas if HBO decided they wanted to make a Dunk & Egg miniseries or TV movies, they’d first need to buy the stories. That’s a much more attractive proposition for all concerned, I think… but if it happens, it will happen years from now, not tomorrow, and not next week.
Frequentemente me perguntam se há ou não planos para filmes ou programas de televisão de Dunk & Egg. Tem havido interesse, sim, mas a situação dos direitos é complicada. Os direitos cinematográficos e televisivos dos personagens e as três histórias publicadas de Dunk & Egg permanecem comigo no momento … mas a HBO, ao adquirir os direitos dos romances SONG OF ICE & FIRE, também adquiriu os direitos cinematográficos e televisivos do mundo de Westeros. Então, se fizéssemos Dunk & Egg com qualquer outra pessoa, precisaríamos remover todas as referências à Casa Targaryen, ao Trono de Ferro, etc … não completamente impossível, mas certamente indesejável. Ao passo que se a HBO decidisse que queriam fazer uma minissérie de Dunk & Egg ou filmes para a TV, eles primeiro precisariam comprar as histórias. Essa é uma proposta muito mais atraente para todos os envolvidos, eu acho … mas se acontecer, vai acontecer daqui a alguns anos, não amanhã, e não na próxima semana.
Sendo assim, essa é a situação! E você? O que acha de tudo isso?
Uma resposta
Sem dúvida, é algo realmente complicado. Cabe a nós, fãs, torcermos e fazermos barulho em todas as plataformas de comunicação para não arruinar as histórias desse universo que tanto amamos. E, claro, continuar fazendo nossas preces para que o Georgeão termine os livros, rsrs.