Crítica | ‘Druk – Mais Uma Rodada’ é uma jornada de euforia e perda

Mais do que focar no tema alcoolismo, 'Druk – Mais Uma Rodada' disseca questões sociais realmente importantes.

O que significa aproveitar a vida? De verdade? Eu tenho certeza de que você e muitas pessoas já fizeram essa pergunta em algum momento de reflexão. Mais do que vivenciar momentos felizes e de descontração, essa pergunta se estende a outros aspectos da vida. O que realmente  te impulsiona a viver? O que te faz gostar de todas as suas experiências e cicatrizes? Mais do que focar no tema alcoolismo,  Druk – Mais Uma Rodada disseca questões sociais realmente importantes.

A história acompanha as vidas de quatro professores do ensino médio que se veem estagnados em suas vidas pessoais e profissionais. Tudo isso acaba afetando a personalidade do grupo, tornando-os tediosos na maior parte do tempo. Como resultado, suas burocráticas aulas não conseguem estimular seus alunos. Sendo assim, quando Martin (Mads Mikkelsen) é criticado durante uma reunião de pais por conta de seus métodos de ensino, ele desabafa sobre suas frustrações com os amigos, o que faz com que o quarteto decida conduzir um experimento etílico a partir da teoria de um psiquiatra norueguês de que o ser humano nasceu com um déficit de 0,05% de álcool no sangue. Tal deficiência seria a causa para a falta de maior traquejo social e criatividade humanas, sendo aconselhável, portanto, que se beba todos os dias, a exemplo de grandes figuras históricas. Assim, os professores começam com uma dose pequena e percebem um ótimo resultado. Apesar de o começo do experimento ser bem divertido e surpreendentemente bem sucedido, à medida que eles vão aumentando as doses de álcool, as consequências que acarretam o grupo são graves.

Ao mesmo tempo em que a bebida é enaltecida, ela é duramente criticada durante o filme, porque é responsável por unir e ao mesmo tempo fragmentar o grupo. Foi uma forma muito inovadora de retratar o alcoolismo, pois é bastante honesto e não segue um caminho de artificialidade sentimental. O roteiro faz um trabalho fantástico em destacar a sedução associada à bebida e não há timidez em mostrar o quão boa é a sensação. Assim, inicialmente, nos vemos extremamente preocupados com o experimento maluco que esse bando de amigos resolve adotar. Mesmo que em algum momento da história suas vidas estejam melhores, o risco de dependência química é muito alto para ser apostado em um mero estudo, e o filme deixa claro a periculosidade desse cenário. 

Dessa forma, a bebida alcoólica realmente tira as inibições e deixa a pessoa mais à vontade em ambientes sociais. No entanto, o diretor Thomas Vinterberg é tão hábil no desenvolvimento da narrativa que a mensagem clichê do “não tem ingrediente secreto, era você o tempo todo” não é o foco, mas é possível pescar a ideia, uma vez que todos aqueles personagens tinham plena consciência de suas capacidades e sabiam do que eram capazes para se destacar no trabalho. Eles só não viam motivação naquilo. É como se você estivesse estagnado na carreira e só trabalhasse para pagar os boletos. Infelizmente, quando falta equilíbrio no ambiente em que você passa mais tempo do que em casa, é evidente que sua vida pessoal pode ser tão vazia quanto.

Por isso, é nítida a união daqueles personagens em momentos-chave. Cada um tem seu devido destaque e ninguém fica como pano de fundo na história do outro e, apesar dos elogios estarem voltados para Mads Mikkelsen, o elenco inteiro se complementa. Mais do que uma mensagem sobre aproveitar a vida, a trama tece um fio da vida que se conecta com diversos pontos de inseguranças, alegrias e medos que o ser humano pode enfrentar. Sozinho ou não, quando a corda arrebenta ninguém pode impor um limite a não ser você mesmo. Até mesmo seus amigos não podem ajudar se você não decidir se ajudar. 

E o final é emblemático, você fica com uma sensação estranha de satisfação, mas pensando na moral da história e absorvendo os recentes acontecimentos. O que aquela conclusão realmente quer dizer? É bem subjetivo, tal qual a performance do protagonista – só é feito para ser apreciado. É inegável que Druk – Mais Uma Rodada vai levar um Oscar pra casa.

 

Nota da autora: Eu não dou 2 anos (por causa da pandemia, mas a cara de pau pode diminuir esse tempo) até Hollywood confirmar um remake, já que estadunidense fica todo mordido quando um filme estrangeiro rouba os holofotes.

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Nota do(a) autor(a)

/5
Druk Poster
Título original:
Ano:
2020
País:
Dinamarca
Idioma:
Dinamarquês
Duração:
117 min min
Gênero:
Comédia, Drama
Diretor(a):
Atores:
Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang, Lars Ranthe

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