Depois do sucesso de Big Little Lies (Jean-Marc Vallée, Andrea Arnold, 2017-2019) – pelo menos o da primeira temporada -, e The Undoing (Susanne Bier, 2020) e sabendo que os mesmos produtores dessas duas obras, incluindo a protagonista de todas elas, Nicole Kidman, estavam envolvidos, minhas expectativas para Nove Desconhecidos (Nine Perfect Strangers), nova série da Hulu distribuída pela Prime Video aqui no Brasil, estavam altas.
Com uma abordagem um pouco diferente das suas antecessoras, já que a Prime Video lançará a série aos poucos (em oito partes), para começar, foram lançados somente os três primeiros episódios, mas o que se pode dizer é que, pelo menos por enquanto, a série ainda não engatou.
Já ouvi dizer que muitos espectadores que consomem o estilo seriado assistem exatamente três episódios para decidir se continuarão acompanhando a produção ou não. Se for assim, duvido que estes permanecerão fiéis a Nove Desconhecidos.
Diferente de Big Little Lies, que é muito mais puxada para o drama, e de The Undoing, muito mais puxada para o crime, a nova série aposta num mistério bastante místico, prometendo algo quase fantástico ou, no mínimo uma veia de ficção científica.
Nicole Kidman está em sua versão élfica, lembrando muito a Galadriel de Cate Blanchett em O Senhor dos Anéis, e o fato de a produção ter sido filmada na Austrália, pertinho da Nova Zelândia, que foi o palco da versão cinematográfica do clássico de J. R. R. Tolkien, contribuem muito para essa sensação de misticismo, que parece ser uma característica muito forte da região. O figurino de Kidman, que sempre usa um vestido branco fluido, bem como o lugar idílico onde sua personagem, Masha, construiu seu resort de luxo, fortalece ainda mais essa impressão. Assim como a Lothlórien do mundo fantástico do autor inglês, a ambientação da série, com seu cenário verde e iluminação clara chega a ser feérica, o que me leva a indagar se a autora australiana Liane Moriarty, que escreveu a obra na qual Nove Desconhecidos é baseada, não pensou em Tolkien enquanto criava sua história.
E em Lost (2004-2010) também, porque da mesma forma que em Lost, Nove Desconhecidos é sobre seus personagens, suas dores e sofrimentos, mas a série atual nunca alcança a mesma maestria de em lidar com eles. O sucesso de Lost esteve na maneira com que os criadores foram apresentando seus vários “heróis”, um por um, enquanto eles estavam na ilha misteriosa, o que foi tarefa difícil de realizar. Mas já no primeiro episódio estávamos rendidos. Nove Desconhecidos passa longe disso e, mesmo com o talento de Kidman e o elenco de peso, seus próprios “heróis”, pelo menos por enquanto, são muito desinteressantes, com a possível exceção de Lars, personagem de Luke Evans, o Sawyer da vez, e de Zoe, personagem de Grace Van Patten, porque o foco ainda não esteve neles.
Sendo assim, a nova série trouxe um começo fraco e, por que não dizer, decepcionante. O tal resort, também misterioso, não consegue fisgar de primeira como aquela ilha o fez em 2004. E ainda não mostrou a que veio.
