Crítica 2 | Rebel Moon: Parte 2 – A Marcadora de Cicatrizes

Longa mantém a mediocridade do primeiro e ressalta características problemáticas de Zack Snyder.

Finalmente está entre nós a segunda parte dessa saga que, segundo o famigerado diretor Zack Snyder, responsável direto pela produção, estaria para a cultura pop como o “novo Star Wars melhorado”, uma alcunha que por si só, já revela grande superestima e vaidade do realizador.

Se em Rebel Moon – Parte 1, já era possível apontar vários furos e conveniências de roteiro (algumas extremamente problemáticas, diga-se de passagem), nessa continuação, esses furos começam a ficar ainda mais evidentes e, apesar desse segundo filme conseguir ser mais divertido do que o primeiro, as falhas de roteiro são ainda mais problemáticas.

Apesar de o enredo proporcionar bastantes momentos divertidos, sequências que deveriam se mostrar como épicas e que ficariam na memória, acabam por ser extremamente esquecíveis por causa de um fator específico: a falta de contexto.

E falta de contexto, é o maior problema do filme.

Todos os personagens, sem exceção, sejam heróis ou vilões, não são bem desenvolvidos. Cada um deles pertence à um estereótipo raso e não se aprofunda em nada além disso. Se um personagem é um guerreiro poderoso, mas de coração sensível, isso é como ele se mostrará durante toda a obra, sem conter o mais importante da construção de um personagem memorável: as nuances.

Por que gostamos tanto do eterno Han Solo de Harrison Ford em Star Wars (com uma sólida base de fãs que admiram mais este personagem do que até mesmo o protagonista Luke Skywalker), sendo que ele parte de uma premissa bastante simples, apenas um bandido espacial que acaba auxiliando os heróis em sua busca?

Gostamos de Han Solo por causa de suas nuances.

O personagem é charmoso e, apesar de cometer vários atos ilícitos e apresentar diversas falhas de caráter, demonstra com suas atitudes e suas nuances (boa parte disso graças à incrível composição de Harrison Ford) ser um cara legal.

Essas nuances são importantes para gerar identificação por parte do público e dessa forma, gerar empatia por parte dos expectadores, o que fará com que a audiência torça por esse personagem e vivencie de forma expressiva os sentimentos e sensações esperados pelos realizadores.

Vemos em tela, uma pessoa de verdade, que se fosse real, poderia ser um amigo, um primo, ou um conhecido do expectador.

Mas quando não há nuances (como é o caso de Rebel Moon), os personagens são apenas personagens na tela e o público não se identifica com eles e muito menos torce por eles.

Outro problema na construção do roteiro são as conveniências. Existem muitos aspectos da história que nos fazem perder a suspensão da descrença, pois tudo aqui é conveniente para o roteiro.

Os personagens só sofrem com problemas quando o roteiro precisa que eles tenham dificuldades e somente logram êxito em suas ações quando o roteiro precisa que eles o tenham.

Nada é construído de maneira sutil ao longo da história.

Aliás, sutileza é algo que passa longe de toda essa obra.

Para quem, assim como este crítico, jamais teve contato com a obra bibliográfica que deu origem à Rebel Moon, tem sérias dificuldades ao conceber como esses filmes puderam receber um orçamento tão alto para serem realizados.

Na carência de um texto sólido e de uma direção de atores sutil, a história acaba sendo extremamente enfadonha e irritante em alguns momentos.

A falta de construção é tão grande que em determinado momento do filme, na ânsia de desenvolver seus personagens principais na marra, enfia garganta do expectador abaixo, um background de cada um, sem o menor contexto.

Os personagens simplesmente se sentam ao redor de uma mesa e, sem o maior motivo e contradizendo completamente o que já foi apresentado de suas personalidades, começam a contar suas histórias.

Esse momento é tão problemático que o diretor força uma atuação completamente fora de tom em seus protagonistas, um momento extremamente emotivo, mas que por causa da falta de construção de contexto, se torna de dificílima digestão.

Com esses problemas de contexto e construção de emoção, mesmo os momentos que deveriam ser épicos, com cenas lindíssimas e longos períodos de utilização de câmera lenta, acabam se tornando vazios.

O problema fica ainda maior quando somos apresentados à morte heroica de alguns dos protagonistas. Os momentos que poderiam ser extremamente épicos e roubar suspiros do público, se tornam cenas vazias e sem qualquer impacto, pois ninguém sofre com a perda desses personagens, já que não nos é estimulada em nenhum momento, identificação e empatia por eles.

O enredo todo é extremamente problemático desde suas raízes.

A motivação dos vilões é extremamente falha, com um objetivo pequeno demais para a quantidade excessiva de esforços e que, da mesma forma aleatória como esses objetivos são apresentados, eles simplesmente são descartados quando o roteiro acha que é o momento de descartá-los.

Assim mesmo, sem mais, nem menos.

Mas a gota d’água é em um sacrifício, já nos momentos finais do filme, quando dois dos protagonistas se despedem na ocasião da morte de um deles e acontece um clichê de declaração de amor nos últimos momentos que é extremamente desconfortável de assistir, uma vez que esse amor não foi nem de perto desenvolvido ao longo dos dois filmes.

O início de uma paixão, talvez, mas um sentimento forte assim, não.

A impressão que dá é que já que já assistimos milhares de filmes onde as cenas finais tem uma morte e uma declaração de amor, foi preciso forçar uma nesse filme também.

Apenas para cumprir tabela.

Os aspectos técnicos de produção são realmente o forte do filme, pois a direção de fotografia é lindíssima e realmente contém aspectos dignos de um épico espacial.

Os efeitos visuais, bem como desenho de som também impressionam, dando a impressão de estarmos assistindo à uma obra ímpar, mas que nunca atinge seu potencial.

As coreografias de ação são bem realizadas, apesar de não impressionar em nenhum momento, também não faz feio.

Zack Snyder está no pior de seu melhor, ou seja, está esbanjando suas técnicas que tanto lhe conferiram fama. Vemos aqui um diretor escravo de sua própria vaidade, pois, ao exagerar em seus aspectos visuais que tanto agradam aos fãs, se esquece de oferecer o que é mais importante: o desenvolvimento da história e de seus personagens.

Assim sendo, Rebel Moon – Parte 2 é um embrulho muito bonito, mas que não passa de uma casca vazia, sem essência.

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Nota do(a) autor(a)

1/5
1
Rebel Moon Parte 2 Poster
Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes
5.2
Título original:
Rebel Moon – Part Two: The Scargiver
Ano:
2024
País:
EUA
Idioma:
Inglês
Duração:
140 min
Gênero:
Ação, Aventura, Drama
Diretor(a):
2024
Atores:
Sofia Boutella, Djimon Hounsou, Ed Skrein

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