O Exorcista: O Devoto

Em 1973, o mundo era chacoalhado com o lançamento do filme O Exorcista, dirigido pelo saudoso William Friedkin e baseado no livro de William Peter Blatty. Vencedor de dois Oscars, o longa foi consagrado como um marco no terror e é lembrado até hoje como um dos filmes mais icônicos da história do cinema. Agora, 50 anos depois, a história é retomada com uma “sequência retroativa” (ou retcon) intitulada O Exorcista – O Devoto, sob a produção da Blumhouse e direção de David Gordon Green (da recente trilogia Halloween).

Na trama, Victor (Leslie Odom Jr.) cuida sozinho de sua filha de 13 anos, Angela (Lidya Jewett), após perder sua esposa em um terremoto no Haiti. Quando Angela e sua amiga, Katherine, desaparecem na floresta e retornam três dias depois, Victor percebe que há algo de errado com o comportamento de sua filha e, depois de presenciar eventos sinistros ao redor das crianças, suspeita de que ambas foram possuídas por algo maligno, decidindo buscar ajuda de alguém que já lidou com isso antes: Chris MacNeil (Ellen Burstyn), cuja filha Regan havia passado pela mesma situação 50 anos antes.

É importante ressaltar que O Exorcista – O Devoto não é a primeira sequência do clássico de 73 a ser produzida. Há O Exorcista II – O Herege, de 1977, e  O Exorcista 3, de 1990, dirigido pelo próprio William Peter Blatty, adaptando seu livro, também sequência, Legião. Além disso, houveram duas prequelas, Exorcista – O Início e Domínio – Prequela de Exorcista, de 2004 e 2005, respectivamente.

Depois de um licenciamento que custou em torno de US$ 400 milhões, chegou a vez da produtora Blumhouse explorar a franquia, mas o resultado inicial já não é nada positivo. O diretor David Gordon Green ficou encarregado de comandar o primeiro filme da trilogia de sequências de O Exorcista, e diferente do que o cineasta fez com o primeiro filme de Halloween, lançado em 2018, aqui ele não consegue captar a essência do que torna o longa de 1973 tão assustador e único no gênero. Na verdade, não parece nem que houve uma tentativa sequer.

Ao se escorar na participação especial (e ridiculamente breve) de Ellen Burstyn, que funciona apenas como validador para atrair os fãs do clássico, David Gordon Green não consegue equilibrar os pontos abordados pelo precário roteiro de forma concisa – ora o longa quer ser um terror assustador, ora quer ser um drama de fé e superação. Em nenhum desses lados o filme consegue algum êxito.

Os elementos de terror mais parecem algo saído do universo de qualidade fast-food dos filmes de Invocação do Mal, em que jumpscares baratos e trilhas sonoras batidas funcionam apenas assustar o espectador ao invés de movimentar a narrativa. A parte dramática, que envolve toda a crença do personagem de Leslie Odom Jr., e os eventos perturbadores que ocorrem não passam de frases de superação genéricas proferidas pela personagem coadjuvante de Ann Dowd e também por Ellen Burstyn.

E por falar em Burstyn, seu retorno à personagem da Chris MacNeil 50 anos depois não se justifica dentro da narrativa. A atriz, que já está na casa dos 90 anos, é desperdiçada em diálogos meia-boca e possui um desfecho que soa como um desrespeito tanto à profissional quanto ao seu legado deixado em O Exorcista. Quanto a Leslie Odom Jr., um ator muito talentoso que se destacou na Broadway por ser vencedor do Tony por Hamilton, em 2016, além de também ser indicado ao Oscar por Uma Noite em Miami, em 2021, está totalmente no piloto automático, sem conseguir passar nenhuma reação ou emoção efetiva. Não se engane, isso é resultado de um personagem mal escrito e de uma má direção que não favorece o ator em quaisquer aspectos.

Apesar dos inúmeros pontos negativos, que também abrangem a falta de uma atmosfera palpável e diálogos risíveis, vale destacar que as atrizes mirins Lidya Jewett e Olivia O’Neill até conseguem ser relativamente boas interpretando as crianças possuídas, usando movimentações e trejeitos que impressionam quando bem utilizadas, mesmo que suas personagens sejam totalmente unidimensionais. A revisitação da icônica e arrepiante trilha sonora clássica Tubular Bells também é de bom grado, apesar de ser usada apenas durante os créditos finais.

Em suma, O Exorcista – O Devoto não se esforça nem para ser um bom filme de terror, visto que para chegar perto da qualidade e relevância do original seria necessário uma força de vontade tão grande ou até maior do que William Friedkin teve décadas atrás, este que, por sinal, deve ter se revirado no caixão por ter sua obra atrelada à esta versão de 2023. A parte mais assustadora realmente é o fato de que há mais dois filmes planejados para serem lançados eventualmente. Boa sorte aos próximos envolvidos, esses sim vão precisar de muita fé.

O longa está disponível no Prime Video.

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Nota do(a) autor(a)

1.5/5
1.5
O Exorcista: O Devoto
O Exorcista: O Devoto
4.8
Título original:
The Exorcist: Believer
Ano:
2023
País:
EUA
Idioma:
Inglês
Duração:
111 min
Gênero:
Suspense, Terror
Diretor(a):
David Gordon Green
Atores:
Leslie Odom Jr., Lidya Jewett, Olivia O’Neill

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