‘Quem Me Ama, Me Segue’ e a arte de recomeçar | Crítica

Comédia romântica francesa aposta na química de seu elenco principal para divertir o público

O tempo transforma as pessoas. Com ele vem as desilusões, os fracassos e as decisões equivocadas que acabam nos colocando em posição de submissão ao suposto destino que nos foi dado. Nos acomodamos e nos ressentimos daqueles que permitiram que chegássemos a esse ponto. Isso, contudo, não quer dizer que devemos simplesmente aguardar que nosso tempo na terra acabe. Essa é a mensagem de Quem Ama, Me Segue, a mais nova comédia romântica francesa que acaba de estrear nos cinemas brasileiros.

O longa conta a história de Simone e Gilbert, um casal que tenta sobreviver no sul da França aos trancos e barrancos. Ele vive fazendo bicos depois que sua oficina fechou e ela cuida da casa. Presa em uma rotina há mais de 35 anos e sem perspectiva de mudança, Simone tem como único prazer o seu caso com Etienne, vizinho e melhor amigo de Gilbert. Mas com a mudança de Etienne para outra cidade, só resta a Simone fugir para encontrar sua felicidade longe do marido. Abandonado, Gilbert decide ir atrás de Simone para reconquistá-la e talvez rever seu comportamento perante a vida.

Embora apresente assuntos pesados, como relacionamentos abusivos, racismo e abandono, a direção de José Alcala trata de tais assuntos com naturalidade e um olhar levemente agridoce sob seus personagens. O mais complexo de todos é Gilbert. Um homem rude e amargurado pelos rumos que sua vida tomou, não consegue perceber que seu comportamento já havia afastado sua filha e agora sua própria esposa. É dele o arco mais sensível do filme, aliado a bela atuação de Daniel Auteuil, que ao invés de transformar o personagem em uma mera caricatura, faz de Gilbert um homem falho, mas com bom coração. Sobra espaço até para uma comédia mais física e seus embates com o adversário/ex-melhor amigo Etienne, interpretado com muito charme por Bernard Le Coq, produzem boas risadas.

Mas a estrela e força motriz do longa é indiscutivelmente a Simone de Catherine Frot. Em uma performance poderosa e corajosa, Frot consegue transmitir todo o ressentimento e desejo de liberdade sem precisar se entregar a exageros. Simone parece retomar a vida que deixou para trás ainda jovem, mostrando isso até no seu comportamento rebelde ao pichar a delegacia de polícia com palavras de ordem. Seu renascimento é o que vai levar Gilbert a perceber o quanto a ama e o que faria para estar com ela novamente.

Fechando o elenco, temos o ator Solam Dejean-Lacréole, que interpreta Térence, neto dos dois e que acaba sendo obrigado a acompanhar Gilbert em sua busca por Simone, estreitando assim os laços com o avô que mal conhecia. Sua performance é bem natural para alguém tão jovem, e apresenta momentos tocantes na trama.

Outro ponto positivo está na forma como retrata seu trio principal. Os protagonistas são representados como pessoas comuns e não fosse por um ou outro comentário acerca da idade deles (um problema nas costas ou um coração frágil), poderiam ter idades bem diferentes. Alcala até inclui cenas de nudez, normalizando corpos idosos tão pouco representados nas telas.

O único problema de Quem Me Ama, Me Segue é acreditar que apenas essa história não seria suficiente para emocionar seu público. Mesmo com enxutos 90 minutos, Alcala ainda acha necessário incluir uma subtrama com a história da doença da filha de Gilbert e Simone que acaba dando tons mais dramáticos a algo que vinha sendo conduzido com leveza até então.

Mas isso não estraga um filme cuja mensagem é tão relevante nos dias de hoje: que recomeçar independe da idade e que para mudar só é preciso estar vivo.

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Nota do(a) autor(a)

/5
Título original:
Ano:
País:
França
Idioma:
Francês
Duração:
90min min
Gênero:
Comédia, Romance
Diretor(a):
Atores:
Daniel Auteuil, Catherine Frot, Bernard Le Coq

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